Proposta de reforma sindical não tem
o consenso alardeado pelo Governo

As propostas do Governo Federal para implementar uma reforma no sistema sindical brasileiro são apresentadas como resultado de um consenso, mas passam por cima das posições defendidas pelas classes trabalhadora e patronal nos fóruns de discussão promovidos em todo o país. Tudo indica que o Governo quer implodir o sistema sindical e montar outro, sob seu controle, como foi no passado, antes da Constituição de 88. Algo parecido com as tentativas de amordaçar a imprensa e controlar a produção da televisão, que acabaram sendo rechaçadas pela sociedade.


   A análise foi feita pelo presidente da FAEP, Ágide Meneguette, durante Assembléia Extraordinária da Federação, em 13/03/2005 (foto), que reuniu mais de 100 delegados e presidentes de Sindicatos Rurais do Paraná para analisar a reforma sindical proposta pelo Governo. Os produtores aprovaram uma posição contrária ao projeto.

O que mais indignou os líderes rurais foi o fato de o Governo alardear que há um consenso nos itens da reforma, quando, na verdade, foram feitas amplas consultas, não aproveitadas. Ao fim, o governo encaminhou ao Congresso os projetos que ele mesmo elaborou.

"O Governo fez que ouviu a sociedade, usa este fato como uma chancela de suas propostas e pretende ver aprovado mudanças que na realidade não foram aprovadas pela maioria consultada. Como a maioria dos sindicatos patronais e de trabalhadores não aprovou essas mudanças, o consenso de que fala o Governo não passa de um mito", disse Ágide Meneguette. O Fórum Trabalhista do Sul, lembra ele, manteve posição diametralmente oposta ao que consta das proposições, mantendo a unicidade sindical e a contribuição compulsória.

A proposta oficial dá poder às centrais sindicais de criar sindicatos municipais chamados "de representação derivada". As centrais ficarão tão fortes que terão o direito de negociar em nome de todos os sindicatos. "Vamos ter, desta forma, um sindicalismo de cima para baixo", diz Meneguette. Esses sindicatos de "representatividade derivada" não precisarão respeitar o mínimo de adesão de 20% da classe. Ou seja, serão "sindicatos fantasmas", sem o dever de prestar contas a ninguém pelo simples fato de terem nascidos a partir das centrais sindicais.

Pela proposta do Governo, as Centrais Sindicais, além de serem reconhecidas, terão poder de negociação em nome dos trabalhadores, usurpando um direito que é hoje dos sindicatos. "Já imaginaram um acordo nacional entre empregadores e trabalhadores que valha para São Paulo e para o Piauí?", pergunta Meneguette. Se o Governo conseguir aprovar a Emenda Constitucional que acaba com a unicidade sindical, irá propor um projeto de lei autorizando a criação de um sindicato quando houver a adesão de 20% da categoria profissional.

Na prática, significa que, numa mesma base territorial podem teoricamente ser criados até 5 sindicatos. Em vez de reduzir o número de entidades, como o Governo diz pretender, vai acelerar a sua proliferação. "Imaginem a bagunça que vai ser um empregador ter que negociar com dezenas de sindicatos", afirmou Meneguette.

Na avaliação das lideranças rurais paranaenses, a pluralidade sindical não fortalece as entidades, nem as patronais nem as dos trabalhadores. Ao contrário, causa um enfraquecimento pela dispersão e pela fatal luta inter-sindical que irá incentivar.

Cortina de fumaça. A conclusão do presidente da FAEP é de que "a Reforma Sindical é apenas uma cortina de fumaça para esconder a falta de vontade do Governo Federal em promover a Reforma Trabalhista, esta sim vital para o desenvolvimento econômico e social do país".

Meneguette observa que, há anos, o país vem reclamando a necessidade de uma ampla reforma trabalhista que torne mais fácil e barata as relações capital/ trabalho, reduzindo a carga tributária que pesa sobre o emprego e as dificuldades que existem na contratação e dispensa.

Havia um compromisso público de que a Reforma Trabalhista e a Reforma Sindical seriam feitas simultaneamente. Ao propor apenas a reforma sindical, o Governo cria uma cortina de fumaça, "muito provavelmente para esconder a falta de interesse ou até o medo de tratar da trabalhista, por suas facetas polêmicas, principalmente no que diz respeito aos direitos dos trabalhadores", disse o presidente da FAEP.


Boletim Informativo nº 856, semana de 21 a 27 de março de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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