PIB da agropecuária cai e prenuncia
ano difícil para o produtor rural

O Produto Interno Bruto (PIB) da atividade primária da agropecuária foi de R$ 160,65 bilhões em 2004, o que representa queda de 0,87% sobre o resultado de 2003, quando o setor atingiu PIB de R$ 162,06 bilhões. O resultado negativo foi causado por fatores como a quebra de safra, a redução dos preços pagos no mercado interno pelas principais commodities e a valorização do real frente ao dólar, segundo explicou o chefe do Departamento Econômico (Decon) da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Getúlio Pernambuco.


   Isoladamente, o PIB da pecuária cresceu 0,42%, saltando de R$ 64,94 bilhões, em 2003; para R$ 65,22 bilhões, em 2004. O PIB da agricultura caiu 1,73%, dos R$ 97,12 bilhões de 2003; para R$ 95,43 bilhões, no ano passado. Os dados são de pesquisa realizada pela CNA e pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP). "A trajetória de crescimento da renda do setor agropecuário foi interrompida", diz Pernambuco.

A queda dos preços das commodities começou a ser verificada em meados do ano passado e não apresentou reversão, desde então. A supersafra de grãos dos Estados Unidos aumentou a oferta mundial, deprimindo ainda mais os preços médios. A queda do PIB da agropecuária em 2004 é sinônimo de dificuldades para o setor rural em 2005, especialmente quanto à comercialização da nova safra. Isso ocorre porque os produtores estão descapitalizados e, paralelamente, os preços médios das commodities não apresentaram recuperação. A saca de soja, que era negociada por R$ 44, no início do ano passado, atualmente tem preço médio de R$ 22. O valor não cobre os custos de produção, que é de R$ 30 por saca. O mesmo quadro atinge outros produtos. A saca de 15 quilos de algodão em pluma era vendida por R$ 22, no começo do ano passado, mas hoje não ultrapassa a marca de R$ 16,50. A saca de 50 quilos de arroz irrigado, negociada por R$ 39 no início de 2004, atualmente tem preço médio de R$ 24.

"Faltam recursos próprios aos produtores. Isso significa dizer que em 2005 haverá maior necessidade de crédito para atender o setor rural.", afirma Pernambuco. Conforme explica o chefe do Decon, para reduzir os impactos da queda do PIB agropecuário será necessário haver instrumentos de sustentação de preços, via mecanismos de apoio à comercialização. O cenário é bastante delicado, lembra Pernambuco, pois há expectativa de que a nova safra atinja quase 134 milhões de toneladas de grãos, contra 119 milhões de toneladas, no ano passado. Aumento da produção, sem mecanismos de sustentação de preços, tende a derrubar ainda mais os preços médios pagos aos produtores. "Em médio prazo, esse desequilíbrio terá efeito negativo, provocando a redução da área plantada e aumentando preços finais no ano que vem", explica Pernambuco.

O conjunto do agronegócio, que envolve não apenas a produção primária, mas também os setores de insumos, indústria e distribuição, apresentou PIB de R$ 533,98 bilhões, frente R$ 520,68 bilhões, em 2003. O número mostra que houve transferência de renda do setor rural para as atividades subseqüentes do agronegócio. "Mas se for mantida essa perda de renda junto ao produtor, a médio prazo o efeito será a redução no número de empregos, no uso de fertilizantes, na compra de máquinas e implementos, afetando toda a cadeia produtiva do agronegócio", diz Pernambuco.

O cálculo do Valor Bruto da Produção (VBP) do setor agropecuário também apresenta resultado negativo. O VBP dos 25 principais produtos rurais (que representa o faturamento do setor) caiu 0,1% no ano passado, atingindo R$ 182,011 bilhões; frente a R$ 182,163 bilhões, em 2003. A queda dos preços médios da maior parte das commodities foi o fator que provou a queda do VBP. A exceção foi o café, produto que teve recuperação de preço.


Boletim Informativo nº 854, semana de 7 a 13 de março de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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