Agricultura brasileira

Pelo bom e pelo ruim, produtores
americanos se surpreendem

Eles vieram curiosos para conhecer as megafazendas do cerrado, na região Centro-Oeste, mas não deixaram também de visitar propriedades no Paraná, de onde saem 25% da safra brasileira de grãos


Grupo americano visita campo experimental da Fundação
ABC, em Ponta Grossa. A fundação dá amparo tecnológico
aos produtores rurais filiados às cooperativas Capal
(Arapoti), Batavo e Castrolanda, que formam o Grupo ABC

Um grupo de 40 produtores americanos dos estados de Iowa, Indiana e Ohio embarcou na semana passada de volta para os EUA depois de quase 15 dias no Brasil. Eles vieram curiosos para conhecer as megafazendas do cerrado, na região Centro-Oeste, mas não deixaram também de visitar propriedades no Paraná, de onde saem 25% da safra brasileira de grãos.

De avião e de ônibus, os americanos percorreram mais de sete mil quilômetros de terras brasileiras, e no roteiro incluíram fazendas, agroindústrias, cooperativas e corporações multinacionais do agronegócio. Puderam constatar as virtudes e os pontos fracos de nossa agricultura.


   "Eu sabia que as estradas não eram boas, mas jamais imaginei que fossem tão ruins", disse Don Ralph, produtor de Ohio, se referindo a rodovias esburacadas como a BR 163, no Mato Grosso, que liga Cuiabá a Santarém. "A produtividade de vocês equivale à nossa. As vantagens do Brasil estão na terra e na mão-de-obra baratas, mas o custo dos transportes acaba nivelando tudo", completou ele. "Sem estradas boas, vai ser difícil para algumas regiões do Brasil se desenvolverem. O preço das commodities vai ter que melhorar muito para compensar os investimentos", avaliou Leon Kessel, que produz grãos e cria suínos em Decatur, no estado de Iowa.



Americanos conferem campo de soja em Ponta Grossa


   Um outro fator desencorajador na agricultura brasileira ficou evidente à comitiva norte-americana na quarta-feira, 16 de fevereiro. Os produtores foram acordados de madrugada, para pegar a estrada em Rondonópolis. "Tínhamos que passar por um trecho da BR 163 antes das cinco da manhã, horário em que o MST ia fechar a rodovia até às oito da noite", disse o guia do grupo, Robison Scorsolini.



O casal Leon e Shirley Kessel, de Iowa. Ele não imaginava encontrar rodovias tão ruins no Brasil


   Apesar dos contratempos, muitos americanos estão convencidos de que o futuro da agricultura está no Brasil. É o caso de Ron Overmyer e Brad Peterburg, ambos do estado de Iowa. Eles nunca puseram os pés em Roraima, mas compraram terras na região através de um fundo de investimento. Com outros 40 sócios americanos, são donos de 6800 hectares de terras virgens próximo da capital Boa Vista. É terra de fronteira, que ainda está sendo desbravada para a produção. "Esperamos em 2007 já começar a produzir soja, arroz e algodão", diz Overmyer. "O que nos atraiu foi o preço barato das terras, que, com certeza, tendem a se valorizar", acrescentou.


   As terras virgens no Brasil foram compradas ao preço de 120 dólares/acre (cerca de R$ 770/hectare). Uma pechincha perto dos 2700 dólares/acre (R$ 17 mil/hectare) que o agrônomo Brad Peterburg obteve na venda de uma fazenda em Iowa. Ele investiu 70 mil dólares em Roraima. Peterburg ainda mantém uma propriedade de 300 hectares em Iowa, mas, nos EUA, prefere direcionar os investimentos em produtos semi-industrializados, de maior valor agregado. Com outros 120 mil dólares da fazenda vendida, ele comprou participação numa usina de etanol à base de milho.



Ron Overmyer, que investiu em terras em Roraima



Brad Peterburg, que também comprou terras em Roraima, atraído pelos preços baixos


   O organizador da viagem técnica ao Brasil disse que outras missões devem vir ao país nos próximos meses. "Houve muita gente interessada, e faltou lugar desta vez", disse Mike Pullins, diretor do Ohio Farm Bureau (equivalente à Federação da Agricultura). "A viagem serviu para entendermos um pouco mais a agricultura brasileira, sobre a qual temos lido e ouvido falar muito. Serviu também para quebrarmos alguns estereótipos, mitos e preconceitos", afirmou Pullins, que disse ter ficado impressionado pela cordialidade dos produtores brasileiros.

OGM’s - Os agricultores americanos disseram que

a tecnologia transgênica continua a ser vantajosa e é utilizada em 80% a 90% dos campos de soja. "O importante é deixar que o mercado tome as decisões e não os políticos", disse Mike Pullins, ciente da polêmica em torno do tema no Brasil. Mike desmentiu que a resistência das ervas daninhas ao Round-Up Ready esteja obrigando os produtores a lançar mais herbicida no solo do que pelo sistema convencional. "Nós evitamos o problema da resistência fazendo rotação de culturas e utilizando outro tipo de herbicida para o milho", afirmou. Se nos primeiros anos da tecnologia a soja transgênica resultava em produtividade um pouco menor do que a convencional, agora, segundo Pullins, as novas



Grupo visita Memorial da Imigração Holandesa em Castro



Mike Pullins, diretor do Ohio Farm Bureau

variedades possibilitam recordes de produtividade. "Neste ano tive a melhor safra da história e colhi 65 bushels/acre para a soja (4.368 kg/ha) e 200 bushels/acre para o milho (12.540 kg/ha)", afirmou.

A viagem dos agricultores americanos ao Brasil começou por São Paulo e teve primeira parada

técnica em Rondonópolis (no coração da região agrícola do cerrado, em Mato Grosso). Lá eles foram recebidos pelo grupo agropecuário Maggi, visitaram um terminal da ADM e três megafazendas de grãos, algodão e café. No Paraná visitaram cooperativas e propriedades de grãos, gado de corte e de leite na região dos Campos Gerais e em Guarapuava. Antes de voltar aos EUA, a comitiva conheceu as cataratas do Iguaçu e passou ainda por fazendas de cana-de-açúcar, de suinocultura e vinícolas em São Paulo.

Segundo o diretor da empresa brasileira que organizou o roteiro da visita, outros grupos de americanos estão a caminho. Mas não

só americanos. Robison Scorsolini disse que, neste ano, somente a empresa dele (Diniscor) já tem agendada a visita de cinco grupos de dinamarqueses, interessados na suinocultura brasileira, e dois da Austrália, que querem conhecer nossa produção de gado de corte.


Boletim Informativo nº 853, semana de 28 de fevereiro a 6 de março de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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