PIB da agropecuária cresce
menos que o do setor de insumos


O crescimento acumulado do setor de insumos, que
envolve máquinas agrícolas, implementos, fertilizantes e
agroquímicos, chega a 2,93%

A riqueza gerada pelo agronegócio brasileiro aumenta em 2004, mas não nas mesmas proporções dos anos anteriores e em taxa inferior ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do setor de insumos. Estudo realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP) que calcula o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio indica que a taxa de crescimento da produção primária da agropecuária acumulada entre janeiro e setembro foi de 2,24%. Ao mesmo tempo, porém, o crescimento acumulado do setor de insumos, que envolve máquinas agrícolas, implementos, fertilizantes e agroquímicos, chega a 2,93%.


   "O PIB dos insumos aumentar mais que o da produção agropecuária significa dizer que há transferência de renda dos produtores rurais para os produtores de máquinas, implementos, fertilizantes, agroquímicos. Reduz a capacidade de investimento na produção primária para o próximo ano", explica o chefe do Departamento Econômico (Decon) da CNA, Getúlio Pernambuco. Pernambuco ressalta que o crescimento do PIB do setor de insumos não significa que os produtores compraram mais produtos de alta tecnologia para serem usados no campo. O que ocorreu foi forte aumento de preços dos insumos. Os produtores rurais gastaram mais e compraram menos. Terão que produzir com menos tecnologia, o que compromete a produtividade, lembra o chefe do Decon.

O economista lembra que em 2003, a taxa de crescimento da agropecuária foi de 11,9%. Sozinha, a agricultura cresceu cerca de 16%. Para 2004, conforme projeções da CNA e Cepea/USP, o PIB da agricultura deve crescer apenas cerca de 2,7% este ano, saltando de um PIB de R$ 94,81 bilhões, em 2003; para R$ 97,39 bilhões, em 2004. O PIB da pecuária deve aumentar dos R$ 63,39 bilhões, registrado no ano passado; para R$ 65,57 bilhões, este ano, o que representa crescimento de 3,4%.

O cálculo que revela o faturamento do setor rural, o Valor Bruto de Produção (VBP), também comprova a perda de fôlego no campo. O estudo, realizado pela CNA, indica que o VBP dos 25 principais produtos da agropecuária será de R$ 185,5 bilhões em 2004; somente 4,5% maior que os R$ 177,5 bilhões registrados no ano passado. "Há queda do VBP principalmente entre produtos da cesta básica, que não receberam políticas de sustentação de preços", diz Pernambuco.

O VBP do feijão, por exemplo, cai 32,8%, de R$ 5,4 bilhões para R$ 3,7 bilhões. Isso ocorre devido à combinação de redução da produção, causada por fatores climáticos, e a queda da remuneração ao produtor. O preço médio do feijão era de R$ 1,67 por quilo em 2003, mas caiu para R$ 1,22 por quilo, este ano, considerando valores atualizados com base no Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) a agosto de 2004. "Esse cenário de baixa remuneração afetou decisões de plantio para a próxima safra", afirma Pernambuco. Produtores de feijão e de milho, que sofreram com queda de preços, estão migrando para culturas como a soja, com melhor liquidez. Cotonicultores também estão enfrentando dificuldades, embora os números ainda não estejam contabilizados no cálculo do VBP. Segundo explica o chefe do Decon, parte dos contratos de exportação de 600 mil toneladas de algodão em pluma foi cancelada, pois a colheita teve qualidade abaixo do esperado, resultando em forte oferta doméstica e queda dos preços pagos ao produtor.


Boletim Informativo nº 846, semana de 13 a 19 de dezembro de 2004
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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