MST recruta pessoas nas cidades
para aumentar número de militantes

Reportagem da Veja (edição 1883) denuncia ilegalidades praticadas pelo MST. Entre elas, o recrutamento de moradores das cidades para aumentar a "população" de sem-terra. Muitos entram para o movimento para receber a cesta básica distribuída gratuitamente pelo Governo.

Leia a seguir trecho da reportagem:

Sem-terra com casa e carro

Para inflar seus números, o MST arregimenta pessoas que têm profissão, propriedades
e que só de vez em quando aparecem nos acampamentos

Há problemas de ordem legal no recrutamento dos andorinhas. Um deles é que essas pessoas não se enquadram nos pré-requisitos estabelecidos pelo Incra para o recebimento de terras destinadas à reforma agrária. Segundo os critérios oficiais, para ser contemplada com um lote, uma pessoa precisa provar ter vocação rural, não pode ser comerciante nem possuir um terreno de tamanho igual ou superior àquele que será doado pelo governo.


   No caso do Pontal, são 6 alqueires. O motoqueiro Gilberto, por exemplo, não atende a duas das três exigências: além de viver do comércio, não entende nada de campo. "Se receber uma terra, não sei o que farei com ela", diz ele, que nunca pegou numa enxada. Gilberto e os outros andorinhas conseguem entrar na fila dos que pedem lote ao governo porque tapeiam as autoridades na hora da entrevista. Para isso, recebem treinamento do MST. Os comerciantes Alan e Márcia Alves de Moraes, por exemplo, adotaram duas estratégias para

passar na entrevista. Como a mercearia do casal está no nome de Alan, Márcia foi a escolhida para pedir o lote porque, oficialmente, não trabalha no ramo do comércio.

A outra estratégia, esta para provar seus laços com o campo, foi dizer ao entrevistador que já trabalhou na roça – ela só omitiu que isso ocorreu há mais de uma década. Enquanto esperam, os dois mantêm no acampamento do Pontal um barraco-fantasma que nem sabem onde fica. "Nos contam que está sempre arrumadinho, porque o pessoal de lá gosta da gente", diz Alan. "Não participo do movimento porque somos evangélicos e o pastor não gosta."


   Outra irregularidade na conduta do MST é pedir ao Incra cestas básicas para quem não preenche os pré-requisitos estabelecidos pelo governo federal. De acordo com as regras do programa Fome Zero, de onde vêm as cestas, têm direito ao benefício famílias cuja renda não é suficiente para a subsistência.

O Incra, intermediário na distribuição das cestas, exige ainda que o beneficiado resida no acampamento. No caso do Pontal, os comerciantes Gilberto, Márcia e Alan são um exemplo claro de que as normas não estão sendo respeitadas. "Ao pedir cestas básicas para quem não precisa, o MST está cometendo uma ilegalidade, por mau uso de recursos públicos da União", diz o promotor André Luiz Felício, do Ministério Público Estadual, que investiga as ações do movimento. O Incra também não está


desempenhando seu papel fiscalizador com rigor.

Quando os técnicos visitaram o acampamento Jahir Ribeiro, para saber quantas famílias teriam direito à cesta, concluíram que esse número seria de 221. Na hora de receber as cestas no balcão do Incra, o coordenador do acampamento, Edi Ronan, pediu 350. "Dei uma choradinha e consegui", diz Ronan. Quando as cestas chegaram ao acampamento, os andorinhas comemoraram. Pagaram 15 reais por algo que, no mercado, sairia por 170 reais

Ao arregimentar para suas fileiras gente sem nenhuma identificação com a causa dos sem-terra, o MST quer inflar seu número de acampados. Não só para aumentar seu poder de pressão junto ao governo, como para manter uma importante fonte de receita. É sabido que o movimento cobra um porcentual em dinheiro dos assentados na hora do recebimento da terra, além de uma mensalidade dos acampados – inclusive dos andorinhas.

Além disso, com uma massa de manobra maior, o MST consegue arrancar mais recursos públicos, teoricamente destinados a investimentos em infra-estrutura nos acampamentos. Especialistas passaram a se referir ao movimento como "paraestatal", por sua capacidade de angariar verbas governamentais. Elas são especialmente bem-vindas num momento em que o dinheiro oriundo de entidades religiosas estrangeiras, que irrigava os cofres do movimento, minguou. Essas organizações, a maioria de origem européia, passaram a dar mais apoio a projetos assistenciais no Leste Europeu. Tomando como exemplo o caso do Pontal do Paranapanema, cartão-postal do MST, a conclusão é a de que o dinheiro saído dos cofres públicos poderia ter melhor destino.


Boletim Informativo nº 846, semana de 13 a 19 de dezembro de 2004
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

VOLTAR