Viagem Técnica aos EUA |
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Escoar a safra sai pela metade do preço nos EUA |
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Este é
o segundo de uma série de dez artigos, da economista Gilda M. Bozza A moderna infra-estrutura de transportes existente nos Estados Unidos constitui uma das principais vantagens competitivas em relação ao Brasil e a Argentina na produção agrícola e no mercado. Os Estados Unidos têm uma infra-estrutura interna de transporte rápida e barata, que transporta grandes volumes de commodities do produtor até o consumidor. A infra-estrutura norte-americana inclui o modal hidroviário, através do Rio Mississipi e seus afluentes, o modal ferroviário e o modal rodoviário. Os Estados Unidos também têm uma grande capacidade de armazenagem para grãos. Em razão destas vantagens, transporte e comercialização, os custos norte-americanos de transporte sempre foram menores frente aos custos do Brasil e da Argentina. Para transportar uma tonelada de grãos da fazenda até o porto, o produtor norte-americano paga US$ 15,00/t. No Brasil este custo sobe para US$ 28,00/t, cerca de 87% maior, haja vista os gargalos existentes na infra-estrutura rodoviária e portuária. Ocorre que os americanos escoam a produção pelos modais ferroviários e hidroviários, uma vantagem comparativa insuperável. A rodovia alimenta a hidrovia e ferrovia em pequenas distâncias, usualmente entre a propriedade e o terminal ferroviário ou hidroviário mais próximo. A matriz multimodal de transportes no Brasil, isto é, o modelo brasileiro de transportes assenta-se no modal rodoviário, com uma soberania quase absoluta, no entorno de 60%. O modal ferroviário tem uma participação de 33% e o hidroviário cerca de 7%. É preciso equacionar a logística brasileira , sendo fundamental que o Brasil inverta a matriz de transportes. As vantagens competitivas da produção de soja no Brasil, dentro da porteira, se diluem quando são imputados os custos pós-porteira, entre os quais se sobressaem custos dos modais de transporte, armazenamento e custos portuários. O transporte constitui uma parte importante da logística, dentro da visão sistêmica e moderna de entregar o produto correto, no lugar certo, no menor tempo, em condições adequadas e ao menor custo possível. A soja é uma commoditie. Para ampliar suas margens de competitividade tem que ter custos de produção e de transporte cada vez menores para poder competir no mercado internacional e propiciar margens adequadas de rentabilidade ao produtor rural. A partir do preço CIF (Custo, Seguro, Frete) no porto de destino designado, vão sendo deduzidos os preços das diversas etapas do processo de comercialização: prêmio (negativo ou positivo), lucro do intermediário, transporte marítimo, embarque portuário e taxas portuárias, armazenamento, frete do transporte terrestre e pedágio. O que sobra desta conta é o preço recebido pelo produtor rural. O preço CIF vale para a soja, para o milho, algodão ou outra qualquer outra commodity dos Estados Unidos, da Argentina, do Brasil ou de qualquer outro país exportador.
Um outro diferencial diz respeito às despesas portuárias, com custo de US$ 3,00/tonelada, enquanto no Brasil o custo é de US$ 6,00/tonelada, isto é, em torno de 50% maior. O quadro abaixo permite constatar o quanto o produtor brasileiro de soja deixa de ganhar comparativamente ao produtor norte-americano em razão dos custos de fretes e despesas portuárias, tomando como base a cotação média da soja na Bolsa de Chicago em 2003.
O produtor brasileiro tem um custo alto em torno de US$ 34,00 tonelada, equivalente a 16% da cotação de Chicago, enquanto o produtor norte-americano, nosso principal concorrente, tem um custo de US$ 18 por tonelada, representando 8% do preço de venda. O subsídio concendido ao produtor norte-americano de US$ 14,00/tonelada de soja, tem um peso substancial e de certa forma os Estados Unidos compensam o custo da logística, via subsídio ao produtor. É inegável que a agricultura norte-americana protegida com subsídio (política interna do país) podendo alcançar entre US$ 14,00/t a US$ 21,00/t de soja, sem sombra de qualquer dúvida, prejudica a competividade brasileira, porém constata-se uma vez mais, que a perda da competitividade brasileira se dá em maiores proporções, em função direta do Custo Brasil, ou seja, da ineficiência da logística, conforme esta Federação vem há anos chamando a atenção. |
Terminal Graneleiro – Rio Mississipi – Elemento fundamental do inteligente e eficiente sistema modal de transporte americano |
O prêmio de exportação da soja brasileira é fator que deve ser somado à cotação da Bolsa de |
Chicago para se obter o preço recebido pelo exportador. Este valor pode ser positivo, representando um ágio, ou negativo, representando um deságio sobre as cotações do produto na Bolsa de Chicago. É negociado entre importadores e exportadores de soja e representa um mecanismo para relacionar as cotações de Chicago e do mercado local. Vale lembrar que as cotações internacionais refletem a ótica do produtor norte-americano, as condições de oferta e demanda dos Estados Unidos, principalmente no curto-prazo. |
Resumidamente, o prêmio leva em conta a origem e o destino do produto exportado, a qualidade, a oportunidade, o frete marítimo, a demanda, o câmbio e a eficiência do porto exportador, podendo ser positivo ou negativo. A questão logística se reveste da maior importância, porquanto muito pouco foi efetuado durante este período (1999-2004) e os resultados são imperceptíveis. O desafio para o Brasil está em priorizar a prevenção e não apenas a intervenção. |
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A Chicago Board of Trade – CBOT, a Bolsa de Chicago, fundada em 1848, constitui organismo central, sem fins lucrativos, refletindo a opinião mundial de oferta e demanda. A Bolsa de Chicago é, mundialmente, o mercado mais líquido de futuros e grãos, proporcionando organização para fixação de contratos futuros – acordos legais e flexíveis – até 18 meses no futuro. O crescimento da produção brasileira de soja e a conquista de segundo maior produtor mundial do grão, faz com que o mercado internacional centre o foco no Brasil, notadamente em função do potencial produtivo que o país detém. Hoje o Brasil tem influência nas cotações internacionais e qualquer notícia referente à produção brasileira tem repercussão nas cotações da Bolsa de Chicago. A partir de março de 2004, quando das notícias de quebra em razão dos problemas climáticos e da ocorrência da "ferrugem da soja" as cotações na Bolsa de Chicago registraram piques de preços. Num primeiro momento, aconteceu a forte evolução dos preços, notadamente entre os meses de março e até o início de maio, com as cotações ultrapassando a casa dos US$ 10,64/bushel, cerca de 77% superior à média histórica dos últimos dez anos de US$ 6,00/bushel (US$ 13,23/saca), assinalando o maior preço desde 1988. É importante salientar que o preço de US$ 10,64/bushel estava fora da realidade, motivado pela quebra da safra norte-americana (2003/04) e as perdas registradas na América do Sul. Os preços da soja despencaram 50% desde que alcançaram a maior alta no período de 15 anos, queda essa atribuída às expectativas de safra recorde nos Estados Unidos. As cotações fecharam em outubro a US$ 5,337/cents/bushel, correspondente a US$ 11,80/saca. Os produtores norte-americanos estão segurando o produto, reduzindo a oferta, porquanto no ano passado venderam a soja cedo demais e a estratégia para comercialização em 2005 é o escalonamento equilibrado das vendas, aproveitando os repiques de preços, porquanto no ano passado segundo a visão deles, efetuarem as vendas muito cedo. Além de estar amparado pelos subsídios, o produtor norte-americano está familiarizado com os instrumentos de comercialização existentes e habituado a operar na Bolsa de Chicago e garantir o seu preço. Vendem o grão a preços mais rentáveis, em torno de 30% a 50% de sua produção quando ainda estão plantando. Entre 30% e 40% vendem no terminal graneleiro e às cooperativas. E entre 10% e 15% constitui a chamada "reserva técnica". Ele entende o jogo, se o preço cair no mercado físico ele ganha na Bolsa e vice-versa. Na época da colheita, quando os preços geralmente se encontram mais baixos, o produtor tem opção de entrar no mercado e comprar sua própria colheita e assim, realizar um lucro com o preço final. Os "hedgers" (compradores e vendedores de cobertura) podem ser pessoas ou companhias que possuem ou planejam possuir uma mercadoria física - milho, soja, trigo – e se preocupam com possíveis flutuações de preço, isto é, com os riscos. Os vendedores ou produtores (short hedgers) querem obter o preço mais alto possível, enquanto que os compradores ou indústrias, trades (long hedgers) querem obter o preço mais baixo possível. O estabelecimento de preços competitivos é uma importante função econômica e um benefício nas negociações de futuros. Por outro lado, o produtor brasileiro necessita maior domínio dos instrumentos de comercialização e passar a operar na Bolsa de Mercadorias & Futuros com o objetivo de garantir seu preço de venda. Neste ano de 2004 quando os preços alcançaram R$ 52,00/saca, o produtor brasileiro não entendeu que era o momento de vender e aguardou que os preços subissem mais, o que efetivamente não aconteceu. Através da utilização dos mecanismos da Bolsa de Mercadorias, ele poderia ter feito um "hedge" fixado o preço em R$ 52,00/saca e vendido no físico ao preço de mercado R$ 42,00/saca, por exemplo. Os R$ 10,00/saca que perderia no físico, seriam compensados via Bolsa de Mercadorias ao preço de R$ 52,00/saca. Hoje este produtor teria realizado um lucro, obtendo ao longo da comercialização uma rentabilidade média considerável e conseqüentemente, melhor margem de rentabilidade. Paul L. Kram Junior, vice-presidente sênior da Fimat, consultor financeiro que atua para empresas e produtores rurais na Bolsa de Chicago, afirma: "hoje a maioria dos produtores, seja no Brasil ou nos Estados Unidos, sabe conduzir bem suas lavouras. O desafio já não é saber produzir, mas como vender as commodities, saber usar os mecanismos de comercialização". Finaliza dizendo que: "os produtores precisam aprender a transferir riscos para os especuladores, caso contrário Cargill, Bungue e ADM têm o caminho aberto para tudo". DTE /
FAEP |
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Boletim Informativo nº 844,
semana de 29 de novembro a 5 de dezembro de 2004 |
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