|
De
Nova Canudos a José Maria Tomazela |
As disputas internas e a cobrança irregular de taxas estão esvaziando os acampamentos do MST no Pontal do Paranapanema. O Jahir Ribeiro, que foi anunciado pelo líder José Rainha como a "Nova Canudos" do MST e chegou a ser o maior acampamento do País, com 4 mil sem-terra, hoje lembra uma vila fantasma, com barracos vazios, lonas rasgadas, bandeiras esgarçadas, estruturas de madeira e móveis expostos às chuvas. O acampamento já teve 1.700 barracos alinhados nos acostamentos da rodovia vicinal SPV-035. Agora, são 221 moradores em 150 moradias precárias. São sem-terra que não têm para onde ir, quase os mesmos que já estavam no lugar antes da chegada de Rainha com seu sonho de grandeza, em maio de 2003. Até o líder abandonou o acampamento, há 4 meses, depois de se desentender com o coordenador Edi Ronan Ribeiro, levando parte dos acampados. O Jahir Ribeiro é o retrato do que ocorre com o MST no Pontal, região que projetou o movimento no País. O total de famílias acampadas caiu de 3.400 para 1.600 nos últimos seis meses, segundo números do próprio movimento. Do "abril vermelho" à nova jornada de lutas conhecida como "novembro vermelho", o MST perdeu na região mais da metade dos seus acampados. Pelo menos quatro acampamentos foram extintos. O fenômeno preocupa os líderes. "A culpa é do governo do Estado, que recebe dinheiro do governo federal para assentar as famílias, mas não faz sua parte", reclama o coordenador regional Valmir Ulisses Sebastião. Este ano, segundo ele, não foi assentada uma única família no Pontal e o governo paulista terá de devolver os quase R$ 30 milhões que recebeu. A falta de perspectiva leva as pessoas a desistirem de esperar sob a lona. "Muitas vão para as periferias, em condições ainda piores." UNIFICADO O líder não admite, mas a falta de pessoas levou o MST a agrupar os acampamentos Margarida Alves e Oziel Alves, de Sandovalina, Chico Mendes e Betinho, de Teodoro Sampaio, e Toninho do PT, de Pirapozinho. Os cinco tornaram-se o Acampamento Unificado de Sandovalina, com 557 famílias, segundo a coordenadora Joana D’Arc. Separados, somavam mais de mil militantes. Do Margarida Alves, um dos mais tradicionais, com 180 barracos no acesso de Sandovalina, restaram estruturas de madeira tomadas pelo mato. A sem-terra Aparecida Gonçalves foi a única que resistiu em mudar-se para o Unificado, por não querer deixar suas criações - galinhas, patos, pintos, um galo - e as plantas cultivadas no terreno. A saída das outras famílias a transformou numa espécie de sem-terra latifundiária. Ela não sabe a quem pertence a área que agora ocupa sozinha. Na prefeitura, consta fazer parte de uma reserva ambiental. "Vou usando a terra enquanto não me tiram daqui." Apesar dos números, José Rainha não considera que o movimento esteja perdendo adeptos. "Estamos há três anos sem assentamentos e isso cria dificuldades." Ele acusa o Itesp de perseguir os já assentados. "Estão mandando notificações e ameaçam tomar o lote deles." O Itesp nega perseguição. Informa que está apenas notificando os que transferiram ou arrendaram suas áreas, o que a lei não permite. Segundo o órgão, foram assentadas 78 famílias em Marabá Paulista, no Pontal, este ano. Para Rainha, é normal as pessoas se dispersarem quando a mobilização se reduz. "Demos uma parada no período eleitoral, mas, retomando as ações, eles voltam." Ele diz que muitos saíram em busca de trabalho para manter as famílias, mas se o movimento convocar, reaparecem. "Para reunir 2 mil ou 3 mil famílias, basta querermos." Aliás, segundo o líder, a mobilização já recomeçou. Na quarta-feira, cerca de 50 sem-terra do Unificado engrossaram a invasão da fazenda Rio Pardo, em Iaras. O líder do MST perde a eloqüência quando o assunto é o Jahir Ribeiro. Ele é acusado por Edi Ronan de fazer acordos com latifundiários. Os dois brigaram e dividiram o acampamento. Os seguidores de Rainha transferiram 200 barracos para um novo agrupamento, o Meire Orlandini, no bairro Lagoinha, em Epitácio. A causa da briga teria sido a invasão da Fazenda Tupi Conan, ordenada por Ronan sem o conhecimento de Rainha. "Ele tinha feito um acordo com o fazendeiro, não se sabe a troco de quê", acusa Ronan. "Não vou falar sobre isso, é assunto para os coordenadores", rebate Rainha. Os dirigentes admitem que a briga e as acusações desgastam o movimento, mas evitam comentários. O coordenador estadual do MST Paulo Albuquerque disse que a questão está sendo discutida internamente. "Ainda estamos resolvendo como isso vai ficar." (Publicado no jornal O Estado de S. Paulo, de 16 de novembro de 2004) |
|
|
Boletim Informativo nº 843,
semana de 22 a 28 de novembro de 2004 |
VOLTAR |