Reportagem da Folha de Londrina
alerta sobre ferrugem da soja no PR


O uso de fungicidas é uma medida de controle para
minimizar os danos a curto prazo

Reportagem publicada no suplemento Folha Rural (06/11), do jornal Folha de Londrina, de autoria da jornalista Cláudia Barberato, alerta os agricultores paranaenses sobre o avanço da ferrugem da soja, que ameaça as lavouras do Paraná. Segundo a reportagem, que cita a pesquisadora Cláudia Godoy, da Embrapa Soja, a ferrugem pode ser mais facilmente observada na fase de maturação, quando as folhas estão amarelas, mas neste estágio os danos já serão irreversíveis.

O diagnóstico tardio pode ser evitado com o monitoramento, principalmente nas folhas da parte inferior da planta, próximas ao solo. O uso de fungicidas é uma medida de controle para reduzir os danos a curto prazo. Para melhor orientar o

produtor rural do estado, o Boletim Informativo publica trecho da matéria a seguir:

"Sempre alerta

Nesta safra, o produtor, com uma margem de lucratividade estreita na soja, terá que usar de racionalidade na hora de aplicar fungicidas na lavoura e monitorar não só a sua área, mas ficar de olho também no que acontece na região. A recomendação é pesquisadora Cláudia Godoy, da Embrapa Soja. Segundo ela, com preços para a soja próximos das margens históricas e o aumento nos custos de produção da lavoura, a recomendação é para que o agricultor trabalhe pela eficiência, racionalizando custos. A melhor estratégia para isso, ensina Cláudia, é fazer o monitoramento.

Com o trabalho é possível planejar quando e quanto a ser aplicado no controle de doenças da lavoura. O custo de aplicação contra a ferrugem nesta safra, por exemplo, ficará na faixa de 2 a 3 sacas de soja por hectare, revela Cláudia. ‘’O aparecimento da doença não só aumenta custos de produção como diminui margem de rentabilidade. Portanto, a melhor estratégia é monitorar.’’ Cláudia afirma que a previsão da meteorologia, por enquanto, é de uma safra com veranicos e chuva na colheita, o que desfavoreceria o aparecimento da ferrugem. O agricultor, no entanto, deve ficar esperto. Outubro, por exemplo, foi um mês atípico. Teve mais chuvas do que o previsto e se o produtor tivesse soja florescendo neste período já teria problemas com a ferrugem.

Embora se fale que o clima é determinante pesquisadores alertam que não há uma fase específica para que a doença se manifeste na planta. A ferrugem pode ser mais facilmente observada na fase de maturação, quando as folhas estão amarelas, mas neste estágio os danos já serão irreversíveis. O diagnóstico tardio pode ser evitado com o monitoramento, principalmente nas folhas da parte inferior da planta, próximas ao solo. O uso de fungicidas é uma medida de controle para minimizar os danos a curto prazo.

A longo prazo, a Embrapa Soja está trabalhando no desenvolvimento de cultivares mais resistentes/tolerantes à doença para reduzir o custo de produção. Sabe-se hoje que o ciclo de reprodução do fungo causador da ferrugem é de 7 a 10 dias, podendo assim ter vários ciclos durante a mesma safra de soja (a soja tem um ciclo de aproximadamente 130 dias). Estudos da Embrapa mostram que, em média, o efeito residual dos fungicidas é de 25 dias.

Se a ferrugem for identificada no início do ciclo de vida da planta, será preciso, em média, três aplicações de fungicidas durante a safra. Na safra passada as perdas do ataque da ferrugem somaram de 4,5 milhões de toneladas. Além do que não foi colhido, os produtores tiveram que investir no controle químico com a compra de produtos e custos de aplicação.

Há três safras

A ferrugem da soja apareceu no Brasil há apenas três safras e ainda gera muitas dúvidas quanto à identificação, o manejo e principalmente o controle. Várias ações têm sido realizadas para uniformizar informações a respeito do problema. Uma dessas ações é o Consórcio Antiferrugem, coordenado pelo Ministério da Agricultura que reúne 60 pesquisadores e técnicos de 12 Estados brasileiros (MT, MS, BA, PR, GO, RS, MG, SP, TO, PA, PI e DF).

A partir do primeiro encontro do grupo, realizado em outubro na Embrapa Soja em Londrina, foi possível definir o conteúdo da palestra-padrão a ser ministrada em todas as regiões do Brasil e estabelecer informações para um folder e um manual, distribuídos aos produtores brasileiros durante a safra de soja. Os pesquisadores acreditam que um discurso único por parte da pesquisa e assistência técnica deverá ajudar nas ações preventivas de sanidade vegetal, identificação da doença, manejo e controle da ferrugem.

Como acontece
a doença na soja


   A ferrugem asiática é causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, que provoca desfolha precoce da soja e reduz o peso do grão. O controle é feito com fungicida, mas é preciso saber o momento certo de aplicar, orientam os pesquisadores da Embrapa Soja. A doença reduz a capacidade de fotossíntese da planta, tanto pela formação de lesões como pelo amarelecimento e queda prematura das folhas.

A queda compromete o enchimento das vagens, resultando em grãos com menor peso, e afeta a produtividade. Temperaturas médias, menores que 28 graus centígrados, e molhamento foliar de mais de 10 horas favorecem a infecção da planta.

A doença se inicia pelas folhas da parte baixa da



A ferrugem da soja apareceu no Brasil há apenas três
safras e ainda gera muitas dúvidas quanto à identificação,
o manejo e principalmente o controle

planta e é caracterizada por minúsculos pontos escuros (no máximo 1mm de diâmetro), no tecido sadio da folha, com coloração esverdeada à cinza-esverdeada. Na face inferior podem ser observadas saliências que correspondem a estruturas de frutificação do fungo. São essas saliências que diferenciam a ferrugem das outras doenças.

A serviço do agricultor

O agrônomo Nelson Harger, da Emater de Apucarana, garante que no Paraná a assistência técnica oficial, junto de pesquisadores, cooperativas e técnicos de empresas privadas, estão unidos no combate e controle da ferrugem. No caso da Emater o trabalho tem sido o de capacitar os técnicos para levarem a informação ao produtor e ajudá-lo a conviver com a doença na soja.

O agricultor do Paraná tem também à sua disposição o serviço de empresas privadas, dispostas a ganhar a sua fidelidade, como os centros de diagnose e as áreas sentinela. O centro de diagnose é um tipo de laboratório que não dá laudo, só identifica a presença ou não da ferrugem ou de outras doenças, garante Jorge Rodrigues, gerente de marketing da Bayer, empresa que financia o projeto. Basta colher uma porção de 10 a 15 folhas, das partes baixas das plantas, onde há suspeita da ferrugem e levar até um dos 11 centros instalados no Paraná. Em Londrina há um no Sindicato Rural. Em minutos o resultado estará pronto e o agricultor pode consultar um técnico da assistência oficial ou privada para saber o que fazer.

O projeto de plantios em áreas chamadas de sentinela, instaladas 20 dias, em média, antes da época normal de cultivo, serve para verificar se existem "esporos" no ambiente do fungo causador da ferrugem. A explicação é do agrônomo Marcos Basso, da Syngenta, empresa que desenvolve o projeto. "Se ele (o fungo) aparece no plantio sentinela é sinal de que a probabilidade é grande de ocorrer na safra,’’ garante Basso. Segundo Basso, se o fungo da ferrugem for identificada no plantio sentinela a recomendação é fazer a aplicação preventiva nas lavouras para o controle da doença, antes que o fungo se espalhe pelo vento. "Os plantios sentinela, geralmente em pequenas áreas, têm como foco principal ‘antecipar’ as decisões do agricultor", garante Basso, que pode planejar melhor toda a sua safra, inclusive previnindo-se contra outros possíveis problemas."


Boletim Informativo nº 842, semana de 15 a 21 de novembro de 2004
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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