Viagem técnica da FAEP |
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Subsídios
e transporte fazem por L. C. Rizzo* |
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Grupo ouve palestra do fitopatologista Wayne Pederson, da Universidade de Illinois, sobre a ferrugem da soja |
Fortes politicamente, os agricultores americanos conseguem altos subsídios governamentais: em torno de US$ 12 bilhões por ano. O equivalente a US$ 42 por hectare/ano agrícola depositados religiosamente na conta bancária do agricultor. Ou através de preço mínimo de garantia ou de preço-alvo na comercialização. Se a cotação de mercado estiver lá embaixo, o governo aciona cotação remuneradora de tal forma que, quem investiu, não jogue dinheiro fora. Segundo Erci Rund, diretor da associação rural de Champaign, não fossem os subsídios, eles já teria vendido sua propriedade há muito tempo. "Estaria trabalhando em fábrica, na cidade", diz o tranquilo e sorridente produtor de milho e soja. |
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Reconhecimento da sociedade - O governo também oferece empréstimo a juros subsidiados quando o preço de mercado desaba. Dá prazo de nove meses para a quitação, tempo suficiente para recuperação das cotações. E, se elas permanecerem até a recuperação. Se isto não acontecer, o governo banca preços mínimos que garantem margem razoável de rentabilidade. Afinal, aqui ninguém trabalha de graça. E muito menos com prejuízo, embora o risco faça parte de qualquer negócio. Entre 2004 e 2007, o preço mínimo para o bushel de milho está fixado em US$ 1,95, soja (US$ 5) e trigo (US$ 2,80). Se as cotações não passarem disto, é acionado o chamado preço-alvo bancado pelo governo. Pelo bushel, milho (US$ 2,63), soja (US$5,80) e trigo (US$ 3,92). |
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Produtores visitam terminal de grãos da Cargill, no Rio Mississipi, em Iowa |
Pelo sim, pelo não, por força de acordos internacionais, os subsídios podem minguar. Daí porque quase todos os agricultores trabalham na propriedade e dispõem de uma segunda ocupação profissional. Na cidade. Mesmo porque, seria muito |
entediante passar seis meses dentro de casa, na mais completa ociosidade, olhando pela janela a neve que cobre tudo. Inclusive os campos de plantação. Logística - No país mais rico do planeta, a logística de transportes é feita com bom senso. Nos EUA 70% das cargas são transportadas por rios – Mississipi, por exemplo - enquanto as ferrovias se encarregam de transportar 20%. Às rodovias, fica a fatia de 10% do transporte de mercadorias. Mesmo assim, para pequenas distâncias que não ultrapassam três horas de viagens. Com direito a tranqüilas paradas nos postos de beira de estrada. Em média, uma carreta não percorre mais de 200 km entre o local que recolheu a carga e o destinatário final. |
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Nesta época do ano (outubro), o velho e lendário Missisipi mostra sua generosidade. Mesmo sendo época de alta demanda temporária, por causa da safra de cereais, o transporte de uma saca de soja ou milho (60 kg), por 1.300 km, custa em média US$ 1 (quase R$ 3). Na entressafra, este preço cai pela metade. Ou até a US$ 0,2/saca. As tarifas para transporte ferroviário são quase idênticas. Mas, os americanos – por tradição – optam mais pelos rios. |
Em Champaign, Estado de Illinois, Eric Rund – diretor da entidade, de baixa estatura e semblante latino, fugindo ao estereótipo do cidadão norte-americano – lembra ter sido esta associação fundada em 1921. Conta com 10000 sócios, dos quais apenas 2.500 agricultores. Como assim? Associação rural, nos EUA, vende seguros pessoais, contra granizo, para automóveis, caminhões e imóveis residenciais e comerciais. |
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Campo de soja queimado pela geada, em Kouts, Indiana |
A associação rural também investe em marketing. Quando necessário, uma comitiva desloca-se à Europa para convencer os consumidores deste continente de que comer soja transgênica não os transforma em Frankstein. A propósito, a soja transgênica vai para ração animal. E a não transgênica, para alimentação humana. |
Em Dekalb, 90 mil habitantes, a associação rural tem 6.500 sócios, dos quais apenas 1.500 produtores rurais. Todos podem se filiar. Basta que adquiram seguro ou outros bens e serviços vendidos pela entidade rural. Embora esta associação não venda insumos, porém, desenvolve programa de extensão rural em parceria com a Universidade Estadual de Illinois. Nesta região, cerca de 85% das propriedades rurais são inferiores a 50 hectares. Área pequena, mas que se torna bem maior porque, enquanto 25% produzem em terra própria, os restantes 75% aumentam a área plantada mediante arrendamento. Aqui, para compra, o hectare custa US$ 10.000. E o arrendamento anual – US$ 333/hectare. Uma típica família de produtores rurais desembolsa por ano US$ 50 mil para despesas pessoais de seus membros. Paga não menos de US$ 8.000 em impostos. A receita adicional – em torno de US$ 25.000 – vem da segunda atividade (urbana) durante a entressafra e/ou no inverno. Impressiona a receita anual desta associação rural: R$ 1,3 milhão. Dinheiro vindo de aluguel de parte de suas instalações (20%), venda de seguros (10%), dividendos da fabricante de sementes de milho Dekalb (60%) e associados (10%). Há décadas, os associados acreditaram na potencialidade de crescimento desta conhecida multinacional de sementes cujo nome é o nome da cidade onde está sediada. E até hoje recebem dividendos. Os americanos pensam grande. E a longo prazo. Tudo precedido, obviamente, de muito planejamento. |
Produtor Vince Faivre, de Dekalb, Illinois, que diversificou a propriedade para alcançar equilíbrio financeiro |
Faivre diversifica para assegurar equilíbrio financeiro. Se uma cultura está com o preço lá em baixo, a outra – aquecida – permite uma certa tranqüilidade. Enquanto a produtividade de soja alcança 64 sac/hectare, no milho são mais de 300 sc/hectare. Cuidadoso, consciente de ser o solo a base de tudo, faz análise a cada três anos para saber a dose exata de aplicação de fertilizantes. Não dá para rasgar dólares impunemente. Em muitos casos, os agricultores coletam |
amostras do solo a cada 100 m2 da área cultivada. O resultado é mais preciso. Defesa da categoria - Além das atividades cotidianas, Faivre está sempre envolvido politicamente na defesa de sua categoria. Ex-presidente da Associação Rural de Dekalb, agora faz parte da diretoria. "Sem remuneração", explica logo, recebendo ajuda de custo simbólica: US$ 40 dólares por ano. É um dos 24 integrantes da comissão municipal de agricultura eleitos pelo voto direto. Faz parte ainda das associações de produtores de milho, soja e suínos. |
Consciência política à parte, Faivre está acostumado à forte competição que marca a sociedade norte-americana. Diz praticar sempre o jogo limpo em sua atividade profissional. "Ganha |
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quem tiver mais competência", resume. Crê na redução da área plantada de soja nos EUA por conta do crescimento dos concorrentes diretos – Brasil e Argentina, principalmente. Por isso, prioriza a produção de milho. Não toma uma só decisão em relação ao próximo plantio antes de analisar tendências de mercado, estoques mundiais, custos de produção, previsão de clima e outros dados. "Não dá pra arriscar, plantar e depois ver o que acontece,", acentua. Seria muito amadorismo para uma atividade que exige cada vez mais competência e profissionalismo. Tanto acima quanto abaixo da linha do Equador. |
Missão técnica visita fazenda experimental da Universidade de Illinois |
Ser e não ter - Renato Fontana, presidente do Sindicato Rural de Umuarama: "Os Estados Unidos são a maior potência do planeta, inclusive na agricultura, porque aqui vale mais o que o indivíduo é do que o ele tem. Praticam o jogo do ganha-ganha. Seus antepassados foram colonizadores que |
desbravaram terras hostis para criar cidades. No Brasil, os portugueses saquearam tudo. Não estavam interessados em colonizar, mas sim em saquear. Os espanhóis fizeram o mesmo no restante do continente americano. Por trás disto, a diferença entre o pensamento católico e o pensamento protestante. O primeiro incentiva a rapina. O segundo crê ser benção de Deus o lucro, desde que obtido com honestidade e prática de justiça social." Flávio Turra (gerente técnico-econômico da Organização das Cooperativas do Paraná-Ocepar) – "Os produtores rurais brasileiros precisam se organiza politicamente, em suas entidades representativas. Isoladamente, não se chega a lugar algum. É preciso também muita cautela antes de qualquer investimento. Não dá pra arriscar por arriscar. E há que se ter poupança diante do cenário de baixos preços dos produtos agrícolas nos próximos anos." |
Mudança de mentalidade - Onildo Benvenho (Sebrae): "precisamos criar uma elite pensante no campo. O programa Empreendedor Rural, em parceria com Sebrae, Senar e Faep, aponta nesta direção. Mesmo porque, não existe outro caminho. O setor |
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precisa de um profundo choque de mudança de mentalidade." Livaldo Gemin, diretor da Federação da Agricultura do Paraná: "esperamos que as viagens técnicas da Faep repassem aos nossos dirigentes rurais, que atuarão como difusores, a certeza de que é preciso avançar mais no modelo gerencial e na forma de conduzir a propriedade rural. O mercado descarta quem não for competente. Apenas lamentar não é o suficiente para a continuidade no negócio". Dalton Celeste Rasera (assessor técnico da Faep): "os americanos nos ensinam: temos que eleger representantes políticos efetivamente compromissados com o campo. As mudanças das regras do jogo, afinal, acontecem através das leis. Temos que sair da zona de conforto e nos mobilizarmos. Não podemos passar por esta vida sem nada construir." Ação no lugar da lamentação - Paulo Buso, presidente do Sindicato Rural de Santo Antônio da Platina: "Os americanos são o que são por causa de uma só palavra: Educação. E este processo começa em casa, dentro da propriedade rural". Hilda Margriet Rabbers de Geus, produtora de suínos: "Eles estão convictos de onde querem chegar. Investem muito no planejamento e não ficam encostados no muro das lamentações. Agem em vez de ficarem lamentando." |
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Foco no negócio - José Mendonça, presidente do Sindicato Rural de Arapongas: "Confesso: antes, sentia uma certa raiva dos americanos. Mudei de idéia. Eles no dão uma lição de extremo profissionalismo, foco no negócio, planejamento. |
Sabem o que querem e como chegar lá. Não por acaso que são respeitados e o povo nem reclama dos subsídios concedidos diretamente aos agricultores. Todos reconhecem o papel do produtor de alimentos. Esta conscientização começa nos primeiros anos escolares e acompanha o cidadão durante toda sua vida." Ângelo Mezzomo, presidente do Sindicato de Coronel Vivida: "com moderníssmos maquinários e tecnologias, os agricultores daqui produzem com facilidade. O tempo para reclamar é substituido pelo tempo para trabalhar de forma planejada, sem stress ou correria. Se tudo correr bem, acho que demoraremos no mínimo 20 anos para nos igualarmos a eles." Claudomiro Rodrigues da Silva, presidente do Sindicato Rural de Apucarana: "Cada agricultor norte-americano faz a sua parte. Não tem essa de "faz pra mim". Ele é empresário rural, sabe que seu negócio precisa ter liquidez. Não tem vergonha do lucro e sim do prejuízo." Denilson da Rocha e Silva, diretor do Sindicato Rural de Cianorte: "impressiona como os norte-americanos aproveitam ao máximo a terra. Muito interessante o seu conceito de planejamento e logística (escoamento da produção). São itens que fazem uma grande diferença no balanço final. Isto sem contar no forte envolvimento familiar nas tarefas da propriedade." Marcos Esteves, diretor do Sindicato Rural de Andirá: "em todos os aspectos, são muito bem organizados. Sabem se estão ganhando ou perdendo. Eles nos deixam a lição de que, mais importante que investir em terra, é investir na terra. Em vez de comprar, eles arrendam terras e ampliam a produção com custos menores." Marco Antônio Saldanha Dutra, presidente do Sindicato Rural de Marialva: "o olho do dono é que engorda a boiada. Não sei se os agricultores americanos conhecem este ditado, mas o levam ao pé-da-letra tamanho o envolvimento familiar e o foco no negócio. Como não são loucos e nem comem vidro, planejam com muito critério cada plantio. Entram pra ganhar. Se o mercado não corresponder, pressionam o governo, conseguem subsídios e não ficam no vermelho. Questão de consciência de classe". * O jornalista L.C.
Rizzo, |
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Boletim Informativo nº 841,
semana de 8 a 14 de novembro de 2004 |
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