Commodities |
Custos
e preços geram cenário |
O produtor rural brasileiro está enfrentando um cenário de extremo descompasso entre os custos de produção da nova safra e as expectativas de preços de venda no próximo ano. Projeções da CNA indicam que a venda da colheita, a preços baixos, não será suficiente para cobrir os gastos com o custeio da lavoura, o que provocará descapitalização do setor, gerando um quadro de endividamento e de desestímulo ao plantio da safra do ano seguinte, ou seja, do ano agrícola 2005/2006. Conforme aponta o presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA, Macel Caixeta, o cultivo de 21,2 milhões de hectares da nova lavoura de soja no País vai custar R$ 33,19 bilhões. Considerando uma produtividade média de 43,2 sacas por hectare, multiplicando esse valor pelo total da área plantada e pelo preço médio de R$ 31,36 pago pela saca, em 26 de outubro, a venda da próxima colheita de soja atingiria o valor de apenas R$ 28,84 bilhões. O resultado final seria um prejuízo de R$ 4,35 bilhões, que é a diferença entre os gastos de custeio e a remuneração de produção, perda que será arcada pelo agricultor brasileiro. Os preços e a produtividade considerados no cálculo referem-se ao mercado do Paraná, que representa a média da produção nacional. A situação pode piorar ainda mais, caso se concretize a previsão de queda dos preços da soja para a faixa de US$ 9 por saca, devido à grande oferta do grão gerada pela supersafra dos Estados Unidos. A situação de prejuízo, considerando os gastos de custeio e o pagamento pela produção, envolve não apenas a soja, mas também as culturas de feijão e milho primeira safra. Os cálculos indicam que o cultivo da primeira safra de milho exigirá R$ 15,58 bilhões de custeio, mas a remuneração pela colheita de 9,17 milhões de hectares renderia apenas R$ 7,56 bilhões, considerando produtividade de 57,59 sacas por hectare e remuneração de R$ 14,31 por saca. É um prejuízo de R$ 8 bilhões. Arroz, milho da segunda safra e algodão são culturas que ainda têm equilíbrio entre os custos de produção e preços de venda da safra, mas em faixas bastante estreitas. "Se houver queda dos preços das commodities, os produtores dessas culturas também serão prejudicados", diz Caixeta. "Está sendo formada uma situação que poderá conduzir a um novo ciclo de endividamento", diz Caixeta, alertando sobre os prejuízos que o setor acumulará a médio e longo prazos. Segundo o dirigente da CNA, há pouca oferta de crédito para realizar o custeio da safra. No Plano Agrícola e Pecuário 2004/2005 há estimativa de liberação de R$ 16 bilhões para financiar o cultivo, mas o custeio total é estimado em R$ 70 bilhões. No caso da soja, este ano também não há acesso a crédito que tradicionalmente era obtido com as empresas compradoras, por meio dos contratos de venda de soja verde. "O Governo oferece somente 20% do necessário", diz Caixeta. Para o dirigente da CNA, o produtor ficará descapitalizado, enfrentando dificuldades, por exemplo, para quitar financiamentos para investimentos. "Além disso, o produtor não tem proteção contra quebra de safra, nem preços mínimos que efetivamente remunerem a produção e também não tem garantia de compra por parte do Governo", diz Caixeta. |
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Boletim Informativo nº 841,
semana de 8 a 14 de novembro de 2004 |
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