CPI da Questão Agrária

Governo do Paraná tem ligações
com MST, denunciam produtores

Os produtores rurais Pedro Paulo Pamplona e Paulo Cléve do Bonfim, que têm propriedades em Áreas de Preservação Ambiental (APAs) de Antonina, em depoimentos prestados à Comissão Parlamentar de Inquérito da Questão Agrária (26/10) que investiga os conflitos agrários e as invasões de terra no Paraná revelaram ligações íntimas entre o governo do estado e lideranças do MST. A CPI foi instalada em 23 de maio deste ano sob a presidência do deputado Élio Lino Rusch. O relaroe é o deputado Delegado Bradock. Segundo noticiou o jornal Folha de Londrina (edição de 27/10), os produtores apresentaram documentos que comprovariam omissão da polícia em furto e


Os integrantes da CPI manifestaram preocupação com as
denúncias feitas à comissão pelo dois produtores

roubo de equipamentos das fazendas São Judas Tadeu e Agropecuária Marcosanto.

Foi apresentada aos integrantes da CPI uma declaração de um oficial de Justiça feita no dia 17 de abril de 2004 nos autos da ação de reintegração de posse contra os integrantes do MST que entraram na propriedade de Pedro Paulo Pamplona no dia 31 de março deste ano. O oficial teria pedido reforço da PM, que seguiu para a propriedade. Os sem-terra não quiseram liberar a área para a PM e garantiram que tinham conversado com o secretário de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari.



Paulo Cléve Bonfim disse que hoje está limitado a utilizar
20% dos 429 alqueires da propriedade e acusou os
acampados de danificarem os rios, liquidarem a fauna e
desmatarem a mata nativa primária


   O oficial teria seguido a ordem judicial para chegar até o barracão e apreender tudo o que estivesse dentro do local. Quando os policiais chegaram até a ponte foram surpreendidos a pedradas pelos sem-terra. Na mata foi encontrado um veículo escondido, e no barracão vários estavam pertences de Pamplona sob guarda de integrantes do MST. No relato, o oficial de Justiça diz ainda que além dos objetos havia carne estocada (cerca de 400 quilos) em tambores, e como não foi possível retirar tudo, por causa do volume, alguns policiais ficaram fazendo guarda no local para que o oficial cumprisse o mandado de busca e apreensão no dia seguinte.

Segundo o relato do oficial de Justiça, que está anexado nos autos, a PM teria voltado ao local no

dia seguinte para retirada dos objetos quando no meio da operação o comandante da PM de Antonina teria recebido uma ligação de superiores ordenando que a operação fosse cancelada. O material furtado não poderia ser retirado do local. "Não sabemos a razão do comando da PM ter resolvido desacatar a lei e a Justiça e cancelar a operação. Não sei o que isso representa. Quem impede a Justiça é considerado como cúmplice’’, complementa o oficial de Justiça.


   Os deputados vão mandar toda a documentação para o Ministério Público estadual e federal. "Esse é o mais grave depoimento que já ouvimos. Me preocupa muito o relato do oficial sobre a comunicação formal para que a operação fosse suspensa’’, complementou o deputado estadual Tadeu Veneri.

O presidente da CPI, deputado Élio Rusch, e o relator, deputado Mário Bradock manifestaram preocupação com as denúncias feitas à comissão pelos dois produtores. Entre as denúncias os produtores também apresentaram cópia da certidão apresentada ao juiz da comarca pelo oficial de Justiça relatando que o chefe do movimento dos



Pedro Paulo Pamplona disse à CPI ter registrado denúncias
na polícia e nos vários órgãos ligados ao setor agrário
e ambiental sem qualquer resposta das autoridades

sem-terra na região, Jonas de Souza, justificou a obstrução da estrada que dava acesso às propriedades ocupadas declarando que "o governador nos deve uma pedra, porque fomos nós que invadimos a praça da Ecovia a seu pedido". Por sugestão do deputado Tadeu Veneri, a comissão deverá convocar Jonas de Souza e sua irmã, Luzinete de Souza, para dar a sua versão dos conflitos. Podem ser ouvidos ainda oficiais da PM que participaram da ação e o delegado do município, Darci Pacheco.

Pamplona e Bonfim disseram à CPI ter registrado denúncias na polícia e nos vários órgãos ligados ao setor agrário e ambiental sem qualquer resposta das autoridades. Uma ação de reintegração de posse que chegou a ser iniciada pelo comante da PM local, tenentes Stokos, no ano passado, custou a ele o afastamento do cargo e um Inquérito Policial Militar, ao fim do qual o oficial foi reintegrado.

Bonfim disse que hoje está limitado a utilizar 20% dos 429 alqueires da propriedade e acusou os acampados de danificarem os rios, liquidarem a fauna e desmatarem a mata nativa primária. Sua intenção, em função dos prejuízos que teria sofrido, é entrar com uma ação de ressarcimento contra o Estado. A mesma intenção foi manifestada por Pamplona, cuja propriedade tem pouco mais de 130 alqueires e era utilizada para a criação de búfalos.

Segundo informações divulgadas pela Assessoria de Imprensa da Assembléia Legislativa do Paraná, também foi lido durante a sessão despacho do juiz de Direito de Antonina, Leandro Andrioli Pereira, constatando a dependência do poder Judiciário em relação ao poder Executivo para fazer cumprir decisões judiciais.

O relator, deputado Mário Bradock, estranhou o pretexto atribuído ao delegado de Antonina para não dar segmento aos inquéritos - o de que estaria impedido de agir por "ordens superiores"- e sugeriu que os documentos apresentados pelos depoentes sejam encaminhados ao Ministério Público. Outro membro da comissão, o deputado Marcos Isfer, qualificou de "kafkiana" a situação, observando que as áreas, por serem de preservação ambiental, não se prestam à reforma agrária, tanto que a oferta feita pelos proprietários para desapropriação não foram aceitas pelo Incra. Participaram da reunião de oos deputados Élio Rusch, Mário Bradock, Marcos Isfer, Tadeu Venéri e Ailton Araújo.

Pamplona diz que recebeu bilhete
anônimo com ameaça de morte


   Pedro Paulo Pamplona (foto) disse que foi ameaçado de morte através de um bilhete anônino. Ele mandou o filho se afastar da fazenda com medo de represálias contra a família. "A situação é grave", alertou. Pamplona disse que mandou um ofício contando o ocorrido ao governador Roberto Requião e entregou cópia do ofício em mãos ao secretário Delazari. Entretanto, nada teria sido feito. "Fiz o que estava ao meu alcance para salvar minha propriedade. Entrei com ações judiciais. Mas elas não tiveram eficácia jurídica porque o governador Roberto Requião considera os sem-terra como abençoados por Deus".



   Paulo Cléve Bonfim lamentou as ocupações realizadas em áreas de preservação ambiental e denunciou que o patrimônio da população paranaense estaria sendo dilapidado. "Essa é uma terra sem lei. Os sem-terra mandam e desmandam. Eles desmatam a mata virgem e não recebem multas porque ninguém pode apontar quem foi o autor do crime ambiental. E eu como proprietário não posso fazer nada, senão entrar na Justiça para receber indenização por danos do governo do Estado. O que mais me deixa indignado é que o povo é quem vai pagar pela omissão dessas autoridades governamentais", pontuou.

A Comissão

A CPI Questão Agrária foi instalada na Assembléia Legislativa em 23 de março deste ano, sob a presidência do deputado Élio Lino Rusch (PFL). O relator da CPI é o deputado Delegado Bradock (PMDB). São membros titulares da comissão, ainda, os deputados José Maria Ferreira (PMDB); Ademir Bier (PMDB); Marcos Ísfer (PPS); Aílton Araújo (PTB); Fernando Ribas Carli (PP); Padre Paulo (PT); André Vargas (PT); Élton Welter (PT); Luís Accorsi (PSDB); Nelson Garcia (PSDB); Renato Gaúcho (PDT); e Chico Noroeste (PL).


Boletim Informativo nº 840, semana de 1 a 7 de novembro de 2004
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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