A “marola” da crise financeira que está fazendo estragos no mundo e que pouco afetaria o Brasil, na visão do presidente da República, já está causando prejuízos à agropecuária, que vão se agravar mais quando chegar a época da colheita da próxima safra.
Esse injustificável otimismo do Governo Federal parece ser responsável pelo imobilismo de setores financeiros federais, especialmente aqueles voltados para o setor.
Mal saindo de uma renegociação de dívidas, que ainda não se concretizou em sua maior parte, os produtores rurais já enfrentam novas dificuldades.
A primeira delas diz respeito ao volume de produção. Certamente o Brasil, e o Paraná em conseqüência, não atingirão as estimativas ufanistas dos organismos do Governo uma vez que os custos de produção aumentaram em mais de 30% principalmente pela alta dos preços dos fertilizantes, enquanto o crédito ficou praticamente do mesmo tamanho, obrigando o produtor a usar menos tecnologia, ou a diminuir a área de plantio ou ainda a buscar recursos onerosos e outras fontes. E há, ainda, problemas adicionais.
Refiro-me ao comportamento dos bancos que, ao invés de facilitarem a renegociação de dívidas e fornecerem novos créditos, exigem o pagamento integral dos débitos e, em alguns casos, negam-se a contratar financiamento para o plantio desta safra, deixando o infeliz agricultor na mão.
Essa crise, que já se consagrou como um “tsunami”, tal o seu poder de devastação da economia mundial, é responsável pelas incertezas do mercado. Como estarão os preços, o volume de demanda, a capacidade de honrar o pagamento das compras quando chegar a hora de comercializar a produção? Se ninguém se arrisca prever como se comportarão as bolsas e a oscilação das moedas entre manhã e tarde, como fazer previsões de que o “mundo precisa comer” e por isso o agronegócio deixaria de ser afetado pelas mazelas da economia?
Assim como o Banco Central vem fazendo com o sistema financeiro, fornecendo recursos para evitar uma “quebradeira” generalizada – o que é correto e louvável – o Governo Federal precisa fazer com o agronegócio brasileiro.
A questão do endividamento merece um tratamento mais sério por parte do setor financeiro, assim como o financiamento da safra lembrando que a natureza não espera e que neste mês de outubro estamos no auge do plantio da próxima safra de verão.
Temo que, se não forem tomadas as medidas certas, o setor rural acabe engolfado numa nova crise de endividamento, como ocorreu na década de 1990 e nos anos recentes deste século. O Governo – e a sociedade – devem ter em mente que é o agronegócio é o responsável pelos saldos em nossa balança comercial, saldos esses que permitiram ao Pais liquidar a sua dívida externa e se colocar em posição menos desconfortável perante a economia mundial.
*Ágide Meneguette
é presidente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP)