Agricultura de árvores, uma oportunidade para os produtores

Grupo de jornalistas conheceu todo
o ciclo da cadeia de silvicultura 

Só existem duas maneiras de se obter madeira: derrubar a floresta nativa ou plantar árvores. Como desmatar é crime, a segunda opção é a única alternativa viável sob os pontos de vista ambiental, econômico e de sustentabilidade.

“Se queremos preservar as matas nativas do País, então temos que estimular os agricultores a plantar árvores para colher. É uma atividade que tem alto valor agregado, mas precisa de linhas de crédito por que o retorno começa a médio prazo”, diz Fernando Martin, agrônomo e extensionista da Emater Paraná.

Martin foi um dos palestrantes do Seminário de Comunicação e Agronegócio – Florestas, realizado na Universidade Positivo, em Curitiba, e que reuniu especialistas, estudantes e profissionais de Comunicação Social (08/10). O seminário faz parte de uma série de encontros sobre comunicação rural, apoiados pelo Sistema FAEP.

A atual situação do setor florestal paranaense, suas potencialidades e desafios, foram debatidos com Fernando Martin e também com o presidente da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre), Roberto Gava, e com o pesquisador da Embrapa Florestas, Edson Tadeu Iede. Para completar a imersão na cadeia produtiva, um grupo visitou a fábrica da Klabin em Telêmaco Borba (13/10), conhecendo todo o processo de transformação da madeira em papel.

Se o cultivo florestal é uma das atividades de maior valor agregado para o produtor, por que não há expansão significativa da área plantada?

Segundo os pesquisadores, a questão é cultural e de informação. Os produtores, historicamente, não vêem a floresta como um aliado. No Paraná, nos anos 50 e 60 tiveram que pôr matas nativas abaixo para implantar as culturas. Agora, com os rigores da lei, são cobrados a recompor 20% dessas áreas.

A informação que falta ser disseminada é de que as oportunidades de renda são bastante atrativas para a “agricultura de árvores”. “Estou procurando algum produtor que tenha plantado floresta e tenha ido à falência. Até hoje não achei nenhum”, disse Roberto Gava.

Os mercados têm sede de madeira plantada. Para atender a demanda, só no Paraná, seria necessário aumentar o plantio em pelo menos 54 mil hectares por ano. No ritmo atual, de déficit, em 2016 será necessário importar a matéria-prima para nossas indústrias.

Um hectare de eucalipto pode render R$ 2601,25 por ano. No início o fluxo de caixa é negativo; o faturamento se concentra no final do ciclo, daí a importância do crédito governamental.

Apesar de ser o maior exportador de madeira serrada para os EUA, e de liderar a exportação mundial de celulose, o Brasil ainda “passa vergonha” na exploração de suas potencialidades. Tem apenas 5,7 milhões de hectares de florestas plantadas, enquanto a China tem 45 milhões.

“O potencial de crescimento é enorme. É uma atividade que protege o solo e a água e ainda pode ser vista como poupança verde pelos pequenos e médios produtores. Uma fonte de renda da qual podem dispor em momentos de perda de produção”, observa Tadeu Iedi. Ele calcula que o País tenha cerca de 50 milhões de hectares de pastagens degradadas que poderiam se consorciar com o cultivo florestal, gerando ótimos resultados econômicos e ambientais.

MITOS DESMASCARADOS - Os especialistas desmascararam mitos envolvendo as florestas plantadas, como o suposto empobrecimento e secagem do solo pelo eucalipto ou pínus. “Nenhuma árvore é suicida, não vai esgotar os recursos naturais que a sustentam”, diz Fernando Martin. Pelo contrário, a pesquisa demonstra que a floresta plantada retira a mesma quantidade de água do solo (ou até menos) do que outras culturas. A floresta cultivada também devolve nutrientes importantes, além de propiciar as melhores pastagens – à sombra, com alimento mais úmido e palatável.

Jornalistas conhecem cadeia
produtiva, da muda ao papel

Visão panorâmica de mosaico desenhado pelas florestas nativas e cultivadas, lado a lado, em Telêmaco Borba

Uma atividade prática, com visita a campo, sempre complementa os Seminários Itinerantes sobre Comunicação e Agronegócio que estão sendo realizados no Paraná. Nos encontros sobre florestas, a visita “in loco” é em Telêmaco Borba, sede da maior fabricante, exportadora e recicladora de papel do País – a Klabin.
Em Telêmaco, os jornalistas e estudantes conheceram a cadeia produtiva de ponta a ponta. Desde a produção de sementes ou mudas por estaquia, e seu desenvolvimento supervisionado em viveiros, até o plantio definitivo, os desbastes e cortes primário e final. Acompanharam ainda a transformação das toras em celulose e papel e em molduras de exportação para a construção civil (visita à empresa Braslumber), além do aproveitamento dos resíduos como biomassa. 

Não faltou, é claro, visita a um produtor rural. Romildo Calado Júnior, que é fomentado da Klabin, “confessou” ter implantado madeira em toda a área de 250 hectares, antes cultivada com milho e soja. A implantação das florestas de eucalipto foi feita aos poucos, por causa do desembolso financeiro necessário no início da atividade. “A rentabilidade tem sido maior do que nas outras culturas”, garantiu Romildo.

Romildo é apenas um dentre centenas de produtores fomentados pela Klabin que, juntos, detêm hoje 86 mil hectares de florestas de pínus e eucalipto. Uma parcela de 20% desses produtores são pequenos, que recebem as mudas de graça da empresa, mas se comprometem a não destinar mais de um terço da propriedade à silvicultura. Esse limite é para garantir a sustentabilidade da pequena propriedade, já que nos primeiros sete ou oito anos a floresta cultivada não gera renda. 

“Sempre orientamos os produtores a não implantar a floresta toda de uma só vez. Melhor é dividir a área em talhões e plantar ano a ano. Quando chegar no sétimo ano, alcança-se um ciclo em que sempre haverá madeira para a colheita”, aconselha Paulo Vicente Ângelo, coordenador do fomento da Klabin.

Visitas a campo foram precedidas por dabate na Unicenp

Para se ter uma idéia do tamanho da centenária Klabin, a área da empresa ocupada com florestas corresponde a 102 vezes a área territorial do município de Curitiba. São 441 mil hectares, 218 mil com florestas plantadas e 183 mil com mata nativa – a segunda maior “mancha verde” do Paraná, menor apenas do que Parque Nacional do Iguaçu. A política da empresa é cultivar duas árvores para cada tora colhida pelos “tigercats” – tratores de 40 toneladas e garras poderosas que colhem eucaliptos como se fossem varetas.

As florestas cultivada e nativa convivem lado a lado, num mosaico que se espalha por dezenas de quilômetros, formando amplos corredores de biodiversidade. Para completar o convívio sustentável com a mata, um laboratório fitoterápico pesquisa propriedades terapêutica e medicinal de 240 espécies. O repelente de insetos ou o creme que os trabalhadores da floresta aplicam para proteger as mãos, por exemplo, são feitos com plantas da própria floresta.   

 Dois anos de debates sobre comunicação e agronegócio

Os Seminários Itinerantes sobre Comunicação e Agronegócio (Secoagro) vão ser realizados ao longo de dois anos (2008 e 2009), em vinte encontros nas regiões que concentram as faculdades de comunicação do estado: Curitiba, Ponta Grossa, Londrina, Maringá, Cascavel/Toledo/Foz do Iguaçu e Guarapuava.

A idéia é que os seminários contribuam para que a sociedade paranaense tenha acesso à informação de qualidade sobre o agronegócio no Estado, produzida de maneira contextualizada e crítica.

O Sistema FAEP é um dos apoiadores dos encontros, que são coordenados pela Embrapa e pela Associação dos Jornalistas do Agronegócio do Paraná (AJAP). Outros apoios incluem a Ocepar, Emater, Iapar e os Sindicatos dos Jornalistas Profissionais do Paraná e de Londrina.      

Boletim Informativo nº 1027, semana de 20 a 26 de outubro de 2008
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná
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