Leite: sem apoio imediato,
desabastecimento à vista

Justo quando os produtores rurais tinham aumentado a produção de leite em 20%, em função do aquecimento da demanda, o mercado se retraiu trazendo de novo crise ao setor. Uma crise acentuada também pelas políticas de governo que fazem brotar produtores de leite em todos os municípios, sem vinculação com indústrias que se comprometam a receber a produção.

Diante do quadro, não há outro caminho: o Governo Federal precisa intervir com medidas emergenciais de apoio à comercialização para amenizar os atuais prejuízos do setor leiteiro. A conclusão é da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de leite e Derivados, que reúne representantes do governo, das indústrias e dos produtores.

O pedido de ações emergenciais, para amenizar a crise de renda, foi apoiado pela FAEP através de encaminhamento de ofício aos ministros da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário solicitando agilização das medidas propostas (ver Box).

O presidente da FAEP, Ágide Meneguette, argumentou que somente no Paraná são 118 mil produtores dependendo  da atividade leiteira que, hoje, trabalham com prejuízo. Os preços atuais estão 15% abaixo dos de agosto de 2007 e os custos de produção 25% superiores. Pior do que o preço baixo hoje recebido é a instabilidade recorrente que atinge o setor, capaz de derrubar qualquer planejamento. Prova disso é que todos os sinais de mercado apontavam para a continuidade da demanda aquecida em função da ausência de estoques mundiais, cenário que se reverteu rapidamente em função de um retrocesso na demanda.

Neste cenário os produtores investiram em seus empreendimentos, aumentaram a produção e junto com o setor industrial foram surpreendidos pela queda de consumo que causou aumento exagerado de estoques, exigindo do governo as medidas emergenciais citadas.

Meneguette destacou que o setor não pode ser punido pela sua eficiência e que a falta de apoio neste momento poderá significar desabastecimento no próximo ano.

 É necessário viabilizar com urgência o aumento das exportações e o crédito para carregamento de estoque. No entanto, as questões estruturantes propostas como a campanha de marketing e homogenização tributária entre os estados também precisam ser encaradas com seriedade, sob pena de, recorrentemente, o setor ter que solicitar medidas emergenciais.

No Paraná o setor industrial, embora composto por indústrias fortes e consolidadas, carece de uma urgente reestruturação para adequar-se à produção para exportação. Dos principais produtos comercializados entre países, que são queijos, leite em pó e leite condensado, o Paraná tem no leite em pó o carro-chefe, sendo responsável por 3,7% das exportações brasileiras desse produto no período de janeiro a julho de 2008.  De janeiro a julho foram exportados pelo Paraná, em equivalente leite, 15.861 mil litros, ou seja, 2.266 mil litros por mês, 75.530 litros /dia.

Isto é muito pouco, considerando a captação diária do estado que, de janeiro a março deste ano  correspondeu a cerca de 4 milhões e  quatrocentos mil litros.

Para o presidente da FAEP, resolvidas essas questões estruturais, não há dúvida de que Brasil e Paraná se consolidarão como grandes exportadores de lácteos, à semelhança do que já ocorre com as carnes.