Travando seu preço, um produtor que vendesse parte da produção de milho safrinha em contratos na Bolsa de Mercadoria e Futuros (BM&F), em abril, teria neste mês de setembro garantido uma rentabilidade 21,6% maior do que a venda direta no mercado físico.
É o que constatou uma simulação realizada e acompanhada pelo Departamento Técnico Econômico da FAEP desde o início de abril de 2008. De forma prática, a simulação comprova a utilidade da BM&F para garantir preço e proteger o produtor das oscilações do mercado. O caso é hipotético mas os preços e demais informações são todos reais.
Simulação
Um produtor de milho safrinha, diante das incertezas do mercado, quis
ter certeza do preço que obteria para seu produto na época de
comercialização, de forma a cobrir os custos de produção e garantir um
certo lucro.
Com a lavoura já plantada e com os custos de produção em mãos, ele procurou um corretor. Descobriu que, para setembro de 2008, o milho estava sendo comercializado na Bolsa de Mercadorias e Futuro (BM&F) a R$ 27,55/saco. Comparado com o custo de produção, o preço era suficiente para garantir uma rentabilidade interessante.
Ajuste diário é um valor que sai ou entra na conta do participante do mercado futuro, conforme a variação diária dos preços do produto na BM&F.
No nosso exemplo, uma operação de VENDA de contratos, toda vez que o preço do milho CAIR na BM&F o produtor RECEBERÁ ajuste, quando o preço SUBIR, o produtor PAGARÁ ajuste.
O produtor não quis colocar toda a produção futura de milho na BM&F. Preferiu deixar uma parte para especular (mesmo sabendo que poderia ganhar ou perder ). Como tem dívidas vencendo em setembro no valor de R$ 60 mil, quis assegurar o preço somente para a quantidade de milho que lhe permitisse quitar a dívida na época agendada.
Na BM&F cada contrato de milho equivale a 450 sacas, que multiplicadas pelo preço futuro da saca, R$ 27,55, resulta em R$12.397,50 por contrato.
Dividindo o valor necessário para pagar a dívida (R$ 60 mil) pelo valor de cada contrato (R$ 12.397,50), resulta a necessidade de negociar cinco contratos na Bolsa.
Negociar
na BM&F significa vender ou comprar contratos.
Vender
=> operação realizada pelo agente de mercado que teme
queda do preço do produto na época de comercialização. É o caso do
produtor rural
Comprar
=> operação do agente de mercado que teme alta no preço do
produto na época da comercialização. É o caso de uma agroindústria, um
exportador, um frigorífico.
Importante:
=> Não
há movimentação financeira no ato de vender ou comprar contratos.
No caso do produtor de milho, ele deu ordem para seu corretor vender cinco contratos na BM&F a R$ 27,55/saca, com vencimento para o dia 19 de setembro.
Na BM&F os contratos vencem no 7º dia útil anterior ao último dia útil do mês de vencimento, porém podem ser encerrados a qualquer momento através da realização de operação inversa: quem tem contrato comprado, vende igual quantidade para o mesmo vencimento; quem tem contrato vendido, compra igual quantidade para o mesmo vencimento.
No dia 16 de abril, data da concretização da venda dos cinco contratos de milho, o produtor começou a pagar ou receber ajuste diário, conforme quadro mostrado na tabela 1, no início da próxima página.
Para honrar os ajustes diários o produtor precisa manter dinheiro em conta bancária. A saída de dinheiro da conta é representada pelo sinal negativo (-) e a entrada de dinheiro na conta pelo sinal positivo (+).
O que é diferença de base?
A
BM&F considera praças de formação de preços, por exemplo: os
preços
divulgados para soja, referem-se ao produto posto Paranaguá, os preços
do milho referem-se ao produto no município de Campinas - SP.
Portanto
há diferença entre os preços divulgados pela BM&F e
os
praticados em qualquer outro local de venda física que não sejam as
praças formadoras de preço. Isto chama-se diferença de base.
O contrato venceria no dia 19 de setembro, mas como no início do mês o milho já estava colhido e o preço deu sinais de queda, o produtor decidiu encerrar sua posição e sair da Bolsa em 1º de setembro, dando ordens para seu corretor realizar a operação inversa, comprando 5 contratos para vencimento em setembro.
Considerando as entradas e saídas diárias da conta, conforme a
tabela 1 o produtor saiu com saldo positivo de R$ 10.237,50 que é
exatamente a diferença entre o valor pretendido (R$ 27,55/saco) e o
valor do milho na BM&F no dia 1º de setembro (R$23,00)
multiplicados por 2.250 sacas.
Se não considerarmos a diferença de base, embora o preço do milho tenha caído para R$ 23,00/saco, o valor recebido de ajuste diário garantiu ao produtor EXATAMENTE o preço pretendido para setembro, 27,55/saco.
Resumindo:
- Em 1º de setembro o produtor vendeu o milho no físico a
R$ 21,00 / saco obtendo R$ 47.250,00
- Como de 16 abril a 21 de setembro o
saco de milho na
BM&F caiu de
R$ 27,55 para R$ 23,00/saca, o produtor recebeu a diferença como ajuste
diário 27,55 – 23,00= 4,55 x 2250 sc = R$ 10.237,50
- R$ 47.250,00 + R$ 10.237,50 = R$ 57.487,50
Como o nosso produtor está no Paraná e não em Campinas, no dia 1º de setembro ele foi ao seu comprador de costume vender o milho e o preço ali praticado no dia estava abaixo de 23,00/saca, o dono da empresa lhe pagou R$ 21,00/saca.
Assim o resultado do produtor com a venda no físico foi: R$ 47.250,00 que é o resultado de R$ 21,00 x 2250 sacos. Mas o resultado financeiro final da venda do milho foi R$ 57.487,50 que é a soma de R$ 47.250,00 + R$ 10.237,50 (ajuste diário).
O sistema FAEP/SENAR está investindo na capacitação dos produtores rurais para atuação em Mercado Futuro, e disponibiliza uma equipe de instrutores especializados.
De março de 2008 até o dia 4 de setembro foram realizados 49 cursos e até o final de setembro há mais 7 agendados, totalizando 840 participantes.
Nos cursos os participantes são incentivados a “navegar” no site da Bolsa de Mercadorias e Futuro – BM&F para familiarizarem-se com um instrumento que permite simular uma operação, com acompanhamento da variação de preços e da posição do participante em tempo real.
Maria Silvia Digiovani
Engenheira Agrônoma – DTE/FAEP