Análise

Leite: 2005 de novo?

Maria Silvia C.Digiovani

Como se voltássemos a 2005 o cenário se repete: o preço do leite ao produtor começa a cair em plena entressafra, sob a mesma alegação de três anos atrás: excesso de oferta.

Quem errou? As indústrias que se lançaram num movimento sem precedentes de aumento de capacidade instalada, fusões e aquisições acreditando numa demanda aquecida anunciada por todos os especialistas do setor? Os produtores que acreditaram no movimento industrial? Os governos que insistentemente incentivam a entrada de novos produtores em cada município sem a garantia de industrialização e comercialização da matéria prima? (ver quadro 2)

Difícil responder onde o processo falhou, o fato é que o leite ao produtor paranaense já caiu até dez centavos por litro do mês de julho para agosto, ao mesmo tempo em que os custos de produção não param de subir.

Os preços dos derivados no atacado também não se mantém aos mesmos níveis que há meses atrás, nas indústrias os estoques se avolumam, principalmente de leite longa vida.

O varejo se dá bem, indústrias que precisam “fazer caixa” se submetem aos preços oferecidos, diretamente relacionados a grande oferta de produtos.

No lado do consumo, pesquisas mostram que os preços dos ìtens básicos como leite, carne bovina, feijão, óleos vegetais apresentaram elevação entre janeiro a abril deste ano em relação a igual período de 2007, fazendo com que 880 mil lares das classes de menor poder aquisitivo cortassem as despesas com a cesta básica.

No mercado internacional os preços estão abaixo dos recordes verificados em 2007, porém muito acima da média histórica.

As exportações brasileiras continuam crescendo, tanto em volume quanto em valor, não obstante a relação desfavorável entre reaL e dólar.

Como já aconteceu em 2005, de uma forma ou outra o setor vai se ajustando, seja diminuindo produção, seja diminuindo custos (se é que ainda há espaço para apertar o cinto), seja alcançando novos mercados. Segundo o professor Geraldo Barros da ESALQ/USP/Cepea, alguma reação positiva já se verifica: O Financial Times publicou que na semana de 11 a 15 de agosto as commodities mostraram as maiores altas em uma semana dos últimos 3 anos.

Ainda segundo o professor uma explicação para isso é a revisão de expectativas do crescimento mundial. O mercado estava considerando que a aceleração inflacionária iria forçar os principais países em crescimento a diminuir o ritmo, principalmente a China.

Porém, a China pós olimpíadas dá sinais de aceleração de crescimento, conforme declaração do vice primeiro ministro aos jornais incitando os agentes econômicos a acelerarem o crescimento do a uma esperada queda das importações do resto do mundo.

Os quadros apresentados mostram números favoráveis de um setor consolidado mas que ainda tem que se aprimorar no tocante a coordenação de cadeia,  para, no futuro,  não sofrer tanto com os “humores” do mercado.

A queda nos preços não deverá ter a mesma duração nem a mesma intensidade que em 2005, porque hoje o cenário mundial é de falta de alimentos.

 
Boletim Informativo nº 1020, semana de 1 a 7 de setembro de 2008
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná
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