Os preços da soja entraram em queda no mercado externo, interrompendo o movimento altista das cotações futuras na Bolsa de Chicago. As condições climáticas favoráveis e a projeção de aumento da produção norte-americana para 81,65 milhões de toneladas na safra 2008/09 provocaram queda de 20% nos preços do produto. No mercado interno, os preços caíram 17%, como resultado da valorização cambial e a comercialização de 90% da safra. Este quadro, somando à elevação entre 22% e 54,20% dos custos de produção, provocada principalmente pelo aumento de 136% dos preços das matérias-primas dos fertilizantes, acabará comprometendo a rentabilidade da lavoura.
“Com esse cenário, o produtor terá maior precaução no plantio e poderá reduzir o uso de tecnologia”, afirmou o presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Mário Schreiner. Segundo ele, as quedas nas cotações da soja aumentam as incertezas quanto aos resultados da safra 2008/09. No levantamento de custos de produção da CNA e Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), foi possível constatar no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Tocantins e Maranhão que os custos de produção, até junho, vinham crescendo mais que as cotações da soja. No município de Rio Verde, em Goiás, foi identificado o maior custo de produção do Centro-Oeste, de R$ 1.545,00 por hectare. Na região Sul, os maiores custos operacionais efetivos estão em Londrina, no Paraná, de R$ 1.382,00 o hectare, enquanto Uberaba, em Minas Gerais, tem custos estimados para a próxima safra de R$ 1.520,00 o hectare.
Segundo dados dos Ativos de Grãos, o preço do adubo formulado básico para a cultura de soja aumentou 87% em maio em relação ao valor pago, em média, na safra passada. Mas os preços que os produtores receberam pela soja subiram apenas 17% se consideradas as vendas antecipadas, a partir de setembro de 2007, além do restante da safra, comercializada até maio deste ano, ao preço médio do período. Entre as regiões pesquisadas pela CNA/Cepea, a maior alta dos preços dos adubos, de 94%, ocorreu em Sorriso, no Mato Grosso, enquanto a soja valorizou apenas 28,7% em relação à média paga, em maio, aos produtores na safra passada. Na região de Cascavel, no Paraná, o aumento do insumo foi de 90% no mesmo período, enquanto a soja valorizou 21%.
Quanto aos fertilizantes, vêm atingindo preços recordes em decorrência da menor oferta das matérias-primas, do crescimento da demanda pelo NPK, em especial por países como China e Índia, além da valorização do barril de petróleo. “Com os preços dos fertilizantes em alta, muitos produtores cogitam a possibilidade de reduzir a quantidade do insumo no solo”, diz José Mário Schreiner. Ele recomenda, no entanto, que essa redução seja feita a partir da análise de solo, caso contrário o agricultor correrá o risco de ter queda da produtividade da sua lavoura.
Com o aumento da demanda e dos preços dos fertilizantes no mercado internacional, a China elevou, em abril, o imposto de exportação das matérias-primas do insumo em até 135%, para evitar possível escassez da oferta no país. Tal medida pretende, também, manter os preços controlados durante o período de grande demanda para o plantio das lavouras de primavera. “Como a China é um dos maiores produtores mundiais de fertilizantes, a tributação sobre os embarques deverá elevar ainda mais os preços em países como o Brasil”, completou o presidente da Comissão da CNA.