O Supremo Tribunal Federal (STF) deve "enxergar o futuro" quando for julgar a questão da demarcação contínua da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, para garantir a soberania nacional nas faixas de fronteira. O alerta é do general Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, ex-comandante militar da região, durante o I Seminário Nacional de Produtores Rurais e Desenvolvimento Sustentável em Áreas Fronteiriças.
Segundo o general, é preciso evitar que a demarcação contínua abra caminho para outras demarcações e que o fechamento das regiões fronteiriças para não índios seja um convite para interferências externas na Amazônia. "Poderemos nos tornar objeto de muitas pressões internacionais", afirmou Lessa, no encontro promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Roraima (FAERR) e Governo do Estado.
De acordo com Lessa, a soma das áreas da Raposa Serra do Sol, que tem 1,7 milhão de hectares, com outras reservas indígenas da região amazônica, como a dos ianomâmis e a de São Marcos, resultará em 20 milhões de hectares destinados exclusivamente a estas comunidades indígenas. “Nestas áreas não será permitida a entrada de produtores rurais e Forças Armadas”, afirma Lessa.
Para ele, o risco à soberania nas áreas fronteiriças se estende a toda a América do Sul devido à presença de muitos produtores rurais nas faixas limítrofes ou até mesmo em países vizinhos com potencial militar ascendente. "O governo da Bolívia está querendo expulsar agricultores e pecuaristas brasileiros da fronteira", relatou.
A escassez de recursos naturais no mundo é outro fator mencionado pelo general Lessa como potencial risco à soberania nacional. "O Brasil poderá se tornar alvo de outros países", ressaltou, lembrando que o País possui 20% da água do mundo, dos quais 80% na Amazônia, além de um terço das florestas. "Daqui a 20 ou 30 anos, metade da população mundial não terá água nem para as necessidades básicas", completou.
Lessa criticou, ainda, a presença de Organizações Não-Governamentais (ONGs) na região atuando em favor da internacionalização da Amazônia e da preservação de comunidades indígenas e ambientais em detrimento da atividade econômica do Estado. “Hoje, cerca de 100 mil das 276 mil ONGs existentes no País atuam na Amazônia”, afirmou. Condenou, ainda, a declaração de governantes e ex-governantes de outros países que consideram que a soberania da Amazônia deveria ser relativa. " Soberania relativa não é soberania. Tem de ser absoluta", concluiu.