Nos alimentos, um sabor de originalidade, capricho e muita qualidade. Já no artesanato, uma mistura de criatividade com o dom de fazer arte com profissionalismo. Na IX Feira Sabores do Paraná, que aconteceu de 23 a 27 de julho no Pavilhão de Exposições do Parque Barigüi, em Curitiba, produtores rurais que concluíram cursos oferecidos pelo SENAR-PR deram uma prova de que, com interesse, iniciativa e perseverança, é possível unir o útil ao agradável e crescer na agroindústria familiar.
Entre os 350 quiosques, distribuídos num espaço de 700 metros quadrados, cerca de dois mil itens foram oferecidos por 500 famílias de todas as regiões do estado. Entre elas, os produtores rurais Francisca Nunes Alves e Vivaldo Silvestre Alves expuseram doces que levam a marca “Tia Chica”. Como dona Francisca fez questão de salientar, 60% dos produtos que acabam dentro dos vidros, prontos para serem saboreados pelos consumidores, são oriundos da propriedade rural do casal.
Em apenas 1,5 alqueire da chácara Paraíso, situado no município de Araruna, são cultivadas poncã, laranja, carambola, graviola, limão, banana e outras frutas que enriquecem a variedade dos produtos agroindustrializados pelos Alves. Da área total, o pomar ocupa apenas meio hectare, onde também existem mata ciliar, uma represa e a fábrica de doce. No restante da propriedade, um alqueire de mandioca.
Segundo dona Francisca, há 40 anos o casal produz temperos, conservas e molhos e doces. “Mas foi somente com a participação nos cursos oferecidos pelo SENAR-PR que crescemos na atividade. Já fizemos 22 cursos. Primeiro, aprendemos a plantar sem o uso de agrotóxicos. Em seguida, como transformar e colocar o produto nos vidros sem o uso de conservantes. Fizemos cursos de compotas, derivados do leite, poda e enxertia, conservas, plantação de banana, mamão, enfim, vários cursos”, lembrou. Na busca de um maior profissionalismo, dona Francisca ainda citou a participação no Programa Empreendedor Rural. “Fiz as fases I, II e III”, destacou.
Atualmente, os produtos “Tia Chica” são oferecidos em 38 mercados da região de Araruna. “Eles também são usados na merenda escolar da prefeitura”, comentou seu Vivaldo. “Estamos na Feira Sabores de Curitiba pela sétima vez. E isso graças ao SENAR-PR. O que trazemos aqui e já trouxemos é fruto do nosso trabalho e do aprendizado que tivemos por meio do SENAR-PR”, acrescentou.
Além da capacitação, o casal ressaltou que, com as atividades desenvolvidas pelo SENAR-PR, teve a oportunidade de ser mais útil à comunidade onde vive. “Já cedemos a nossa cozinha para que o SENAR-PR realizasse cursos para a nossa comunidade”, lembrou dona Francisca. Já seu Vivaldo afirmou que sempre procuram repassar o que aprenderam a outras pessoas. “Isso vale como um incentivo para que elas fiquem em suas propriedades e não vão para a cidade. Porque é triste ver, diante das dificuldades, as famílias abandorarem o campo por falta de orientação”, disse.
Quanto ao futuro, não faltam sonhos para o casal. Um deles é transformar a propriedade, onde não usam agrotóxicos, em orgânica. “Também, temos o sonho de implantar, dentro da chácara, um projeto social que atenda entidades beneficentes”, concluiu dona Francisca.
Nos cinco dias da Feira Sabores do Paraná, mais de 30 mil pessoas visitaram o evento de acordo com a Secretaria da Agricultura. Num deles, o expositor fazia questão de comentar sobre a importância de estar em dia com os avanços do setor agropecuário. Para o produtor Marcelo Francisco Braga, mais do que nunca a propriedade rural precisa ser encarada como uma empresa.
Segundo Marcelo, essa idéia foi reforçada após ter concluído, no ano passado, o curso “ De Olho na Qualidade”, oferecido pelo SENAR-PR. “O curso abre a visão do produtor. Você passa a cuidar de uma propriedade como se cuida de uma empresa. “Só assim ela pode dar lucro”, afirmou.
Na propriedade de 5,1 hectares em Mandaguaçu, ele cultiva frutas e vende produtos com a marca Braga´s Doces Caseiros. Quanto a novos desafios, ele não tem dúvida. “Quero ter uma agroindústria maior e transformar os meus atuais 70 postos de vendas em 700. Mantendo a mesma qualidade da produção”, ressaltou.
Artesanato em bambu, palha de milho, taboa e fibra de criciúma. No quiosque do grupo de artesãos “Tecendo História Artesanato Rural”, de Cerro Azul, curiosidades e muito capricho. Para o produtor rural José do Carmo Moura e Costa, um dos 12 artesãos que participam do grupo, os cursos de artesanato do SENAR-PR ajudaram a melhorar a qualidade e a diversidade dos produtos. “Antes, fazíamos basicamente chapéus e cestas. Hoje, fazemos redes, almofadas, abajours, cangalhas e fruteiras”, disse. José afirmou que, apesar de gostar de lidar na roça, o sonho dele é, um dia, viver apenas com o artesanato. “O trabalho artesanal é mais leve. Além disso, dá mais satisfação”, concluiu.
Já a produtora Miraita Carmo Mattos, de Doutor Ulisses, destacou a importância de ter concluído os cursos de artesanato em bambu e taboa. Para ela, que trabalha com artesanato há 30 anos, os cursos representaram um grande avanço na atividade. “Eu já lidava com essas matérias-primas, mas não tinha informações suficientes sobre como utilizá-las melhor. Hoje meus balaios, peneiras e bolsas estão no shopping, em supermercados e em outras lojas”, disse.
Para Miraita, o artesanato garante uma melhor receita à família. “É mais uma fonte de renda. Na época de lavoura, dedico-me à produção de milho e feijão. Faço artesanato apenas num dia da semana. Mas, fora do período de produção agrícola, dedico-me ao artesanato quase todos os dias”, concluiu.