A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Conab estão aprimorando as planilhas de custos de produção para a suinocultura e a avicultura. No Paraná, o pesquisador da Embrapa Ademir Girotto está elaborando planilhas regionais, que levam em conta as diferenças quanto à produtividade, custo de ingredientes e sistemas de produção. O trabalho tem apoio das Comissões Técnicas de Suinocultura e Avicultura da FAEP. Na semana passada, depois de mais uma reunião com produtores, Ademir Girotto deu a seguinte entrevista ao Boletim Informativo:
Boletim Informativo - A
Embrapa já tem planilhas para estimar custos de produção de suínos e
aves. No que essas novas planilhas vão ser diferentes?
Ademir Girotto - Essas planilhas vão buscar os custos de produção de
cada região diferenciados, porque no Paraná, especificamente, temos
algumas peculiaridades de uma região para outra. É isso que vamos
buscar. Em termos de preços de ingredientes, custo de mão-de-obra,
sistemas de produção. São pequenas diferenças, mas que têm um impacto
no custo. A gente está tentando levantar o custo de produção de cada
região o mais perto possível da verdade.
BI - As integradoras não
poderão se queixar, alegando que estas novas planilhas foram feitas
para atender demandas dos produtores?
AG - Existe uma metodologia de cálculo do custo de produção que foi
desenvolvida pela Embrapa e está sendo usada no Brasil inteiro. Então,
em termos metodológicos, acredito que a agroindústria não vai ter o que
questionar. O que fica mais aberto para discussão, e isso vai acontecer
com certeza, são os coeficientes técnicos utilizados. É isso que a
gente vai buscar em cada região nas reuniões com produtores. Nós sempre
dizemos aos produtores que temos que colocar na planilha de cálculo os
coeficientes técnicos de custos que correspondam à realidade. Não
adianta você subestimar o desempenho de sua atividade, tentando ter um
custo de produção mais alto para negociar com as indústrias, por que aí
sim eles vão ter um argumento para contestar estas informações. Vamos
trabalhar com o que de fato acontece na realidade, e aí a agroindústria
não tem o que dizer.
BI - Estes custos
repassados pelos produtores são só com base em declarações, ou são
documentados?
AG - Nos temos dados de desempenho de lotes, que foram entregues pela
agroindústria, são muitas informações. E temos também produtores que
fazem um acompanhamento detalhado de seus custos. Os dados que vão
entrar nas planilhas são reais, facilmente comprováveis, não tenha
dúvidas.
BI - Por que é importante
para um produtor colocar todos seus custos numa planilha?
AG - A gente sabe que o produtor hoje é um empresário. Ele tem que
tocar sua atividade como se estivesse tocando qualquer outra no
mercado. Tem que pensar empresarialmente. A planilha é uma ferramenta
de gerenciamento. É muito importante conhecer seus custos, e
analisá-los item por item, para tentar identificar entre eles o que
pode ser melhorado.
BI - Como funciona a
metodologia da elaboração dessas planilhas?
AG - A tecnologia é a mesma. Os cálculos são os mesmos em todo o
Brasil. O que muda são os coeficientes. Nós vamos em cada região
levantar os coeficientes dos custos de produção locais. A gente
classifica os custos em fixos e variáveis. Tem a parte de custos que
cabe ao produtor e a que cabe ao integrador. Isso tudo está separado
nas planilhas. A gente tem de fato o que o produtor vai gastar e o que
a indústria gasta, e assim é possível determinar a rentabilidade de
cada um.
BI - A agroindústria está
repassando esses dados?
AG - Não, mas de uma certa forma sim. Nós temos os dados, os relatórios
das entregas de lotes dos produtores. São informações que as
integradoras passam aos produtores e que nós lançamos. O diálogo com a
indústria vem melhorando. Na última reunião da Comissão Técnica de
Avicultura da FAEP, o representante das cooperativas se dispôs a
repassar os dados, inclusive afirmando que não existe caixa-preta. Nós
vamos ter uma boa massa de dados para trabalhar.