Paraná implanta vazio sanitário
da soja pela primeira vez 

A medida é uma estratégia de manejo,  
que visa reduzir a ferrugem asiática

Do dia 15 de junho a 15 de setembro, será implantado o vazio sanitário da soja no Paraná. É a primeira vez que o estado adota essa medida, que está regulamentada pela Resolução no 120/2007.  Desde o final do ano passado, a FAEP orienta os produtores quanto ao impacto, a necessidade e as conseqüências do vazio sanitário da oleagionosa.  

A medida é uma estratégia de manejo, que visa reduzir a ferrugem asiática nos primeiros plantios. Com isso, busca-se diminuir a possibilidade de incidência da doença  no período vegetativo da lavoura e, conseqüentemente, reduzir o número de aplicações de fungicida e o custo de produção.

Na implementação do vazio sanitário, um ponto que preocupa é a falta de cuidados no transporte e no manuseio da safra de soja que, muitas vezes, resulta em plantas voluntárias em locais públicos, estradas, rodovias e ferrovias. Para o controle dessas plantas, que constituem foco de doença, será necessária a participação ativa dos responsáveis por cada área, seja pública ou privada.

Ferrugem asiática - A doença é causada pelo fungo Phakopsora pacchyrhizi . Sua primeira constatação no continente americano ocorreu em março de 2001, no Paraguai. Em maio do mesmo ano, apareceu no oeste do Paraná. No Brasil, a ferrugem asiática encontrou condição climática favorável ao seu desenvolvimento, principalmente no cerrado, com a presença de hospedeiros (a própria soja) durante todo o ano. Em função dessas condições, o fungo tem mostrado níveis de alta agressividade e perdas severas nas lavouras de soja. São relatados casos de redução da produtividade acima de 70%.  

A doença causa necrose nas folhas e ocasiona queda prematura delas. O que prejudica o enchimento e a formação de grãos. Quanto mais cedo ocorrer a infestação da doença na lavoura, mais cedo ocorrerá a desfolha. Com isso, o tamanho dos grãos é reduzido e a perda de rendimento e qualidade é maior. Nos casos mais severos, há abortamento de vagens, com significativas perdas de produtividade.

O fungo causador da doença é facilmente disseminado pelo vento. Assim, atinge tanto lavouras próximas como as mais distantes. Porém, o fungo não é transmitido por meio de sementes.  O patógeno necessita de hospedeiro vivo para sobreviver e se multiplicar e a entressafra contribui para reduzir a presença da doença no ambiente.  Como exemplo, nos EUA, a ferrugem asiática, relatada em 2004, tem apresentado danos com impacto menos significativos que no Brasil.  A menor pressão do fungo na América do Norte acontece pelo fato do inverno ser rigoroso, o que favorece o período de inexistência do hospedeiro e não permite a sobrevivência do patógeno nas principais regiões produtoras do meio-oeste americano.

Prejuízos - No Brasil, o cultivo da soja safrinha e a safra de inverno, viável com o uso da irrigação em várias regiões do País entre as safras de 2002 a 2005, serviram como uma ponte verde, disponibilizando hospedeiro para o fungo durante todo o ano. Tais condições propiciam a sobrevivência do patógeno no campo, aumentada a pressão do fungo nas lavouras, contribuindo para sua agressividade e severidade.  

A evolução da doença resulta em perda de produtividade

Essa evolução da doença resulta em perda de produtividade e aumento do custo de produção da lavoura. Nos últimos anos, estima-se que houve perda (Quadro 01) de aproximadamente 14 milhões de toneladas de grãos e o controle da ferrugem custou US$ 7,73 bilhões aos produtores de soja.

Vazio sanitário - O aumento da pressão de doença, principalmente nos estados do centro-oeste e sudeste do Brasil, e as elevadas perdas levantadas a campo levaram os governos a adotarem o vazio sanitário da cultura da soja, o que gerou expectativa de melhora no controle da ferrugem asiática.  Em 2005, o Ministério da Agricultura publicou uma recomendação para que houvesse uma interrupção por 90 dias entre a colheita de inverno e o plantio de soja no verão.  Na seqüência, a Superintendência Federal de Agricultura no Estado do Mato Grosso e o Instituto de Defesa Agropecuária assinaram uma recomendação conjunta para que se mantivesse as áreas sob pivô central sem cultivo de soja e sem a presença de plantas voluntárias até o plantio normal da safra.  

O período de 90 dias, determinado para o vazio sanitário nos estados, está embasado em relatos de pesquisa. O período inclui uma margem de segurança, em função do maior período de sobrevivência observado, que foi de 55 dias em folhas jovens infectadas, armazenadas na sombra (Pattil, 1998 - J. Soils and Crops, v.8, n.1, p. 6-19).

A partir de 2008, sobe para nove o número de estados brasileiros com adesão ao vazio sanitário. A medida foi instituída no ano de 2006 pelo Mato Grosso, Goiás e Tocantins. A partir de 2007, Mato Groso do Sul, São Paulo, Minas Gerais e Maranhão também adotaram o vazio sanitário. Neste ano, a prática será adotada pelo Paraná e pela Bahia.  

A regra geral para todos os estados é a proibição do cultivo da soja no período estabelecido conforme as regiões de cultivos (Quadro 02) .E também a eliminação da soja voluntária, tigüera ou guacha (plantas originárias de grãos caídos no chão).

Orientação ao produtor:

O que fazer?
Monitorar e eliminar plantas de soja, seja voluntária ou cultivada, até o dia 14 de junho, nas áreas de sua responsabilidade.
 
Quem está obrigado a fazer?
Proprietários, arrendatários, parceiros ou possuidor de qualquer área ou instalação nas quais houve cultivo, colheita, armazenamento, beneficiamento, comércio, industrialização, movimento ou transporte de soja.
 
Conseqüências
Sanções administrativas previstas no art. 9 da lei estadual no 11.200/1995, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal.

Países vizinhos - O vazio sanitário está ajudando a retardar a ocorrência e a diminuir a pressão da doença nas lavouras. Com a adoção do vazio sanitário por mais estados, os benefícios poderão ser sentidos por todos, uma vez que a doença se propaga pelo vento. Um ponto preocupante, quanto ao manejo da doença, é a situação dos países vizinhos, como Bolívia, Paraguai e Argentina onde não ocorre o vazio sanitário e as freqüentes correntes de vento, que sopram do Pacífico e do sul da América do Sul, trazem esporos para as lavouras no Brasil.

*Bolívia: são feitas, pelo menos, duas safras por ano (verão e inverno). No país, têm ocorrido fortes epidemias de ferrugem na soja, encontrando hospedeiro o ano todo.

*Paraguai: além da existência de áreas com Kudzu, planta perene e também hospedeira da ferrugem, a soja é cultivada nos meses de agosto e setembro que freqüentemente são infectadas precocemente pela ferrugem.

*Argentina: ainda não foi registrado fortes epidemias de ferrugem, porém apresenta áreas com kudzu fortemente infectado. Estas áreas foram identificadas na Província de Missiones, no norte da Argentina, relativamente perto do Rio Grande do Sul.

Sucesso em Mato Grosso - No estado de Mato Grosso, o cenário visualizado até o momento é satisfatório. Isso leva a crer que o vazio sanitário está conseguindo atingir seus objetivos.  A fiscalização das áreas tem sido realizada pelas autoridades e o monitorando é levado à risca.  Após a adoção do vazio sanitário naquele estado, os primeiros focos de ferrugem foram retardados em alguns dias e não foram necessárias aplicações de fungicidas no estádio vegetativo da soja, como em anos anteriores. A não-realização dessas aplicações precoces já é considerada o primeiro ganho proporcionado pelo vazio. Uma vez que pode representar uma economia significativa para o estado, que cultiva seis milhões de hectares de soja.   

No Quadro 03, pode-se observar o registro da doença nos campos de cultivos de soja em Mato Grosso nos últimos 5 anos, comparando-se dois períodos distintos: o pré e o pós- implantação do vazio sanitário.  

Safrinha no Paraná - Embora a safrinha seja cultivada em apenas 51,8 mil ha do Paraná, o equivalente a 1,3% da área cultivada na safra normal, a regulamentação da medida é importante para que o agricultor esteja atento aos cuidados a serem implementados e às medidas que deve tomar para não causar situações de risco que favoreçam a ferrugem. A distribuição do cultivo da soja nas duas safras pode ser visualizada no Quadro 04. A segunda safra da soja no Paraná, mesmo pouco representativa, é mais cultivada na região sudoeste e oeste do estado.  

A área de safrinha, nos últimos anos, tem se mostrado crescente, mesmo que instável, acompanhando a flutuação do preços do grão. Na região sudoeste, era uma opção. Principalmente, após cultivo do feijão. Com a decisão de aderir ao programa do vazio sanitário, houve uma redução de 38% na área de cultivo de safrinha neste ano. Existe um consenso quanto aos ganhos do vazio nos setores de pesquisa e produtivo. A medida propiciará uma redução na incidência da doença, refletindo na redução no número de aplicações e conseqüente redução no custo de produção. Segundo dados disponibilizados pelo DERAL, a produtividade média da soja safrinha é somente 75% da produtividade da soja cultivada na safra normal.    

Boletim Informativo nº 1008, semana de 9 a 15 de junho de 2008
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná
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