De um lado, uma maior demanda por alimentos. Do outro, uma oferta que não acompanha a crescente necessidade de produtos alimentícios da população mundial.
O atual cenário, marcado pelo desequilíbrio entre a oferta e a demanda, é o resultado de vários fatores, como a crescente demanda em países emergentes da Ásia, as mudanças climáticas, que prejudicaram a produção agrícola de países, como a Austrália, o aumento da produção de biocombustíveis e o encarecimento dos insumos.
Ao mesmo tempo, os estoques finais de grãos estão menores. Situação que se tornou uma constante nas últimas décadas. Diante dessa realidade, sobem os preços dos alimentos. A situação é agravada com o investimento especulativo nos mercados das commodities. A alta do petróleo, a realização de lucros por parte dos fundos de investimento, o aquecimento da demanda chinesa, o baixo nível dos estoques norte-americanos e a ação especulativa por parte dos fundos ajudam a sustentar o nível de preços internacionais dos grãos.
Não faltam exemplos que comprovam o desequilíbrio entre a oferta e a demanda. Em 18 anos, a demanda por alimentos na China, como na Índia, registrou um crescimento de 80%. No cenário mundial, destaca-se o baixo estoque de cereais, como milho, arroz e trigo. De acordo com estudo da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), os estoques de cereais, como milho e arroz, é o menor dos últimos 25 anos. Já os de trigo deverão ser os mais baixos em 30 anos.
É importante ressaltar que a alta dos preços dos produtos agrícolas não representa ganho por parte dos produtores rurais. Isso porque, nos últimos meses, os custos de produção registraram um considerável aumento. É o caso dos fertilizantes. No período de dezembro de 2007 a fevereiro de 2008, os preços do cloreto de potássio aumentaram 20%. Já os dos fosfatados aumentaram 45%.
Nos últimos doze meses, o dólar assinalou uma queda superior a 8% em relação às demais moedas. A fraqueza do dólar frente às principais moedas também atua como fator de sustentação das commodities, o que explica a oscilação nos preços internacionais.
No Brasil, com uma safra que sinaliza uma produção recorde superior a 140 milhões de toneladas, resultado da utilização de modernas tecnologias e eficiência, os ganhos de produtividade, nas últimas décadas, revestem-se de conquistas fundamentais para que o País consolide sua posição como grande fornecedor mundial de alimentos. No período de 90/91 a 06/07, o crescimento da produção foi de 218%. Já a área plantada, em igual período, cresceu 20%. A produtividade passou de 1.528 kg/hectare para 2.800 kg/hectare.
O Brasil deverá não apenas manter a sua posição como também se adequar à evolução científica, haja vista que o grande desafio é a competitividade global onde as mudanças acontecem rapidamente. A continuidade de investimentos em pesquisa e desenvolvimento agrícola possibilitará ao País a manutenção e a ampliação dos espaços conquistados no mercado mundial.
Porém, o produtor brasileiro defronta-se constantemente com toda espécie de barreiras tarifárias e sanitárias impostas aos seus produtos, dificultando seu desempenho nos mercados. O que o coloca em uma situação desfavorável ao competir com uma agricultura fortemente subsidiada de outros países. Isso sem falar na questão cambial que é totalmente desfavorável ao produtor rural, com uma política cambial que não contempla a agricultura.
Os problemas de logística constituem o grande gargalo para a agropecuária brasileira. Têm um efeito sobre todo o sistema econômico. Eles desarticulam o processo produtivo a partir da porteira, até o porto de embarque, e afetam a competitividade brasileira. No Brasil, o modelo de transportes assenta-se no modal rodoviário, com uma soberania quase absoluta (indicado para distâncias de até 600 km), ou seja, em torno de 60%. Já o ferroviário tem uma participação de 33% e o hidroviário, de 7%. Por isso, é preciso equacionar a logística brasileira. É fundamental que o País inverta a matriz de transportes, haja vista que o produtor rural arca com a perda de receita.
As vantagens competitivas no Brasil, dentro da porteira, diluem-se quando são imputados os custos pós-porteira. Entre estes, destacam-se os custos de transporte, armazenamento e despesas portuárias.