Nos últimos meses, a inflação voltou a mostrar careta e os mais apressados já arranjaram um vilão: os preços dos alimentos. Os índices, na verdade, mostram que tais preços ajudaram, sim, a elevar a inflação, mas uma análise simplista, de apenas poucos meses, distorce a realidade.
Há anos os preços dos alimentos vem segurando a inflação. É isso que mostram os dados levantados pelo corpo técnico da FAEP. Para uma inflação de 223,47% desde 1994, os preços dos alimentos e bebidas subiram, em média, apenas 144,39%, isto é, bem abaixo dos índices do custo de vida.
O estudo mostra que, na verdade, os preços administrados pelo Governo, como energia elétrica, telefonia e combustíveis, são os maiores responsáveis pela alta da inflação.
Importante, também, é saber o que vem provocando esse aumento no custo de alimentos. Não é a vontade do produtor rural, uma vez que ele não faz seu preço. E este é reflexo de cotações internacionais. O aumento dos alimentos tem muito a ver com o aumento das importações da China, da Índia e de outros países emergentes da Ásia, cujas populações se contam a bilhões de habitantes e que estão saindo de uma situação de pobreza extrema para entrar no mercado consumidor.
Tem a ver com o programa dos Estados Unidos de incentivar a produção de etanol a partir do milho. Como faltou milho nos Estados Unidos, seu preço internacional subiu. E como a produção do milho se expandiu e tomou o lugar da soja naquele país, subiu também o preço da oleaginosa. Tudo isso elevou o preço da ração animal e, por conseqüência, os preços do leite e das carnes.
O produtor rural está apenas respirando e não ganhando horrores como dizem alguns. Mal saído de uma crise em razão de secas e de uma má política cambial, o produtor rural enfrenta um brutal aumento de custo de produção porque os preços dos fertilizantes, dos combustíveis, dos fretes tiveram altas absurdas e estão pressionando o resultado das atividades agropecuárias não apenas no Brasil, mas em todo mundo.
A agropecuária, portanto, não é a vilã da inflação. Ela apenas reflete o que vem ocorrendo na economia mundial.
*Ágide Meneguette
é presidente do Sistema FAEP/SENAR - PR