Os agricultores/pecuaristas cearenses, na sua grandiosa maioria, não dispõem dos recursos necessários para exercerem suas atividades agropecuárias com sucesso. Estão acostumados a mendigarem favores aos governos constituídos, quer seja através de subsídios, perdão de dividas ou outros, que os tornam dependentes de um sistema arcaico de tutelamento.
São fracassados em suas atividades rurais. Não sabem produzir, administrar e comercializar dentro dos mais modernos parâmetros da administração rural. Ficam dependentes de um sistema escravocrata, que nunca se preocupou em ensinar-lhes o šcaminho das pedrasš. Que em vez de proporcionar-lhes o conhecimento justo e necessário, ficavam subsidiando atividades improdutivas, levando-os a subserviência econômica.
Em geral, dedicam-se exclusivamente a produção, que exige muito trabalho e produzem pouco lucro, expondo-os a constantes riscos. É segundo Polan Laick, a etapa pobre do agro negocio, onde seus custos de produção são demasiadamente altos, e os preços de venda de seus produtos, demasiadamente baixos.
Cabe ao estado, como gestor, implantar políticas que garantam ao produtor rural, a estabilidade produtiva, assegurando-lhes meios de administração, produção e comercialização, para que os mesmos possam mudar a forma arcaica ate hoje empregada. Tem o governo por obrigação, mapear as regiões produtoras, identificando-as de acordo com suas aptidões produtivas e incentivar a produção de cada uma.
Por que não preparar os agropecuaristas com cursos, qualificação e aprimoramentos dos métodos gerenciais? Por que não levar-lhes os conhecimentos de novas tecnologias produtivas? Por que não torná-los eficientes produtores rurais? A quem interessa a manutenção da ignorância e da pobreza rural?
Por que não substituir os sistemas milenares de preparação e cultivo do solo? Por que se pastoreiam rebanhos com a mesma técnica usada há três mil anos atrás? Por que não se usa irrigação localizada, analise e correção de solos, rotação de culturas, sementes selecionadas, rebanhos geneticamente melhorados? Por que não fazer o mapeamento das áreas agricultáveis? Por que em vez de se distribuir favores, não se oferta conhecimento?
Por que rebanhos bovinos geneticamente de baixa qualidade, com uma produtividade perto de zero e uma rentabilidade insignificante, não são substituídos por ovino-caprinos, muito mais adaptáveis a estas regiões?
Alguns dirão que estamos situados numa região ciclicamente sujeita as intempéries climáticas. E, daí, pergunto eu? Israel está localizado num deserto, e possui a mais moderna agricultura irrigada do mundo, Almeiria, na Espanha está localizada no Saara espanhol, e é o celeiro de frutas e verduras da Europa. A Austrália tem condições climáticas iguais ou piores que a nossa, e, no entanto possui um dos maiores rebanhos ovinos do planeta.
Faltam às autoridades responsáveis pelo setor, uma política de incentivos não monetários, como uma maior distribuição de conhecimentos, e uma assistência técnica de qualidade, tarefas estas, que o estado pode e tem o dever de oferecer.
De parabéns a Faec, o Sebrae e o Senar pela iniciativa louvável de trazer até nós o Programa Empreendedor Rural, que abriu novos horizontes para os felizardos que concluíram esta primeira etapa. Somos hoje, que queiramos ou não, divulgadores desta nova šdoutrinaš. Em nossos ombros pesa a responsabilidade pela aplicação dos ensinamentos recebidos, pela divulgação dos resultados e principalmente pela disseminação dos ganhos obtidos com a aplicabilidade das novas tecnologias.
As autoridades constituídas têm a obrigação de dar continuidade a este programa, elas, somente elas, tem o poder de alterar este sistema cruel, desumano e paternalista que condena milhares e milhares de produtores rurais e seus descendentes, a uma vida sem esperança, que os tornam dependentes de favores e benesses governamentais.
Aos senhores gestores dos municípios agraciados com o programa, usem os empreendedores aqui presentes, para que eles sejam facilitadores em grupos, nas suas comunidades, para que possam dividir com quem precisa os conhecimentos adquiridos, e quem sabe um dia sejam vossos municípios referencia nacional, como hoje o é o estado do Paraná.
Saibam os senhores, que a melhor maneira de manter o homem no campo, alegre e produtivo, é proporcionando-lhe uma melhor qualidade de vida, evitando-se a migração para os centros urbanos e consequentemente sua favelizaçao.
Ao sistema Faec/Senar e ao Sebrae, comandados por homens de visão, verdadeiros empreendedores, que enxergaram longe, uma sugestão: façam, na medida do possível, a realização dos próximos programas, nas áreas rurais, onde está em grande quantidade à matéria-prima necessária e sedenta de conhecimentos.
José Ribamar Marques - Empreendedor rural
joseribamarm@hotmail.com
Publicado no jornal O Povo, de 25/03/2005