Endividamento

Impossível quitar dívida de cinco
safras no prejuízo, sem novo prazo


Notícias de que os produtores paranaenses vão ter lucro na safra atual de verão são equivocadas. Como ter lucro se estão carregando prejuízos e dívidas de cinco safras?, pergunta Ágide Meneguette, presidente da FAEP. Em julho começam a vencer parcelas de financiamentos rurais, alongados em curto prazo pelo Governo. É preciso uma solução urgente, que dê fôlego ao setor para plantar
as próximas safras, diz Meneguette, em documento enviado a Brasília.
Leia a seguir a carta do presidente e o estudo da FAEP e Agroanalysis..

Ágide Meneguette, presidente da FAEP

As datas de pagamento dos financiamentos rurais – de custeio e de investimento – estão se aproximando e os produtores rurais não têm como saldá-los porque o alongamento da dívida proporcionado pelo Governo Federal no ano passado foi insuficiente.

    Lembramos que os produtores rurais do Paraná estão, desde o segundo semestre de 2004, acumulando prejuízos de 5 safras – duas de inverno e três de verão – resultado de 3 anos de secas consecutivas e principalmente da sobrevalorização do real. Os prejuízos acumulados desde 2004 chegam a R$ 9,7 bilhões, que eqüivale ao Valor Bruto da Produção total da safra atual de soja, milho e trigo.

    As notícias de que os produtores rurais paranaenses vão ter lucro na atual safra de verão são equivocadas. Como podem ter lucro se estão com um acúmulo de prejuízo de safras anteriores e foram obrigados a alongar seus financiamentos que, portanto, também estão acumulados.  A prova disso é que no financiamento de custeio da safra atual sobraram R$ 2 bilhões a juros fixos de 8,75% porque os produtores estavam com o limite para obter empréstimos comprometido.

    Para se ter uma idéia da dimensão do estoque de dívidas que os produtores estão carregando no país, apenas o Banco do Brasil renegociou R$ 8,6 bilhões nos últimos dois anos, sendo R$ 2 bilhões no Paraná para serem pagos entre 2007 e 2011, mas essa é somente uma parte do elenco de débitos.

    No Paraná, além do custeio da safra, as dívidas dos produtores rurais de soja, milho e trigo que devem retornar aos credores em 2007 remontam ao volume de R$ 1,44 bilhão, conforme o anexo I.

    Os dados da SEAB mostram que o Valor Bruto da Produção – VBP das três culturas somará R$9,98 bilhões. Desse total, segundo cálculos do próprio governo por meio da CONAB, R$ 7,735 bilhões representam o custo de produção operacional.

    Deduzindo do VBP o custo operacional e o pagamento de estoque de dívidas de R$ 1,44 bilhão, sobrariam R$ 800 milhões para a sobrevivência de 160 mil famílias no ano, o que daria apenas R$ 5 mil por ano, cerca de R$ 415,00/mês para cada família com 4 pessoas em média, ou seja, R$103,00 para cada pessoa passar o mês.
    O quadro atual entre os produtores é de desespero, pois obviamente a conta não fecha e no entanto, se noticia apenas a safra recorde, esquecendo da dimensão dos prejuízos acumulados entre 2004 e 2006, das dívidas prorrogadas para os próximos anos e da recente alta dos insumos, como se pode averiguar nos anexos II, III e IV.

    Cabe ressaltar que muitas regiões do Paraná foram mais castigadas com a seca e queda de preços entre 2004 e 2006, carregando um estoque de dívida muito superior à média. Além disso, na safra que está sendo colhida, não foram todas as regiões que atingiram a média excepcional de produtividade, por conta da ferrugem asiática, outras doenças, pragas e problemas climáticos.

    Em conseqüência desta situação, será impossível para os produtores quitarem todas as dívidas, razão pela qual solicitamos providências para uma solução urgente que dê ao setor o fôlego necessário para plantação das próximas safras.

Atenciosamente,

Ágide Meneguette
Presidente

Boletim Informativo nº 957, semana de 21 a 27 de maio de 2007
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná
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